Por que os homens insultam tanto as mulheres?
Por JOSI GONÇALVES -O ministro Wagner do Rosário, da Controladoria Geral da União (CGU) e capitão da reserva do Exército chamou a senadora Simone Tebet (MDB-MS) de descontrolada durante depoimento na CPI da Covid, na última terça-feira, 21.
A ofensa não chega a ser nenhuma novidade para quem é mulher e está acostumada a ouvir um rol grande de impropérios nas mais diversas situações: mal comida, maluca, galinha, piranha, puta, vagabunda.
Os insultos também atingem valores de relações afetivas: interesseira, má mãe, maria chuteira. Isso quando não falam da aparência, da gordura e de outros aspectos físicos. Puro sexismo machista que vai além dos xingamentos, eles querem nos silenciar.
É notória a dificuldade de uma mulher conseguir colocar seu ponto de vista numa reunião que envolva a presença de homens. Toda a fala, que é interrompida com constância, tem que ser meticulosamente estudada pela mulher, para não parecer que ela é agressiva, dona da razão, arrogante, metida.
Em outras palavras, a mulher tem que mascarar a inteligência e conhecimento que tem para sobreviver em uma sociedade que a discrimina e a diminui pelo simples fato de ser fêmea.
Uma amiga contou chorando que aprendeu a sussurrar suas ideias para não ser taxada de agressiva, só porque ela defendia suas ideias com firmeza. O assédio chegou a tal ponto que ela teve que repassar seu capital intelectual para um homem para que suas ideias e projetos fossem ouvidos e aprovados. Por fim pediu demissão do trabalho.
Por que os homens interrompem tanto as mulheres em suas falas?
A resposta é simples: porque eles se acham mais eficazes e pensam que podem falar melhor por acreditar que tem um maior domínio de um assunto.
Não importa quantos anos, nós mulheres passamos estudando e adquirindo conhecimento, sempre haverá um machista de prontidão menosprezando o saber que uma mulher conquistou.
Igualdade de gênero, diversidade e inclusão? Só na teoria por enquanto. É preciso haver mais comprometimento e engajamento das empresas para promover um ambiente inclusivo.
Outro ponto que não deve ser deixado de lado é que quando os insultadores não conseguem desqualificar o que dizemos, tentam depreciar a nossa imagem.
O que se vê comumente são mulheres afetadas em sua saúde mental, esgotadas por tentar a todo custo provar sua capacidade laboral e intelectual para um grupo de homens céticos e sem o menor interesse em cessar com as práticas discriminatórias em relação à mulher.
Mães e pais de meninos também têm um papel muito especial: ensinar aos filhos machos que as mulheres não nasceram para serem corpinhos belos, recatados e do lar. Ensinem seus filhos que temos cérebro, além de uma vulva, que eles devem se calar para ouvir o que temos a dizer, que podem até discordar do que pensamos, mas não têm o direito de afetar nossa dignidade. Ensinem-os a ser homens e não moleques mergulhados até o fundo em narcisismo e misoginia.
Violência silenciosa; identifique
Manterrupting
Quando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase.
A palavra é uma junção de “man” (homem) e “interrupting” (interrupção) e, em tradução livre, quer dizer “homens que interrompem”.
Mansplaining
Quando um homem dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, de forma didática, como se ela não fosse capaz de entender. O termo é uma junção de “man” (homem) e “explaining” (explicar).
Bropriating
Quando um homem se apropria da mesma ideia já expressa por uma mulher, levando os créditos por ela. O termo é uma junção de “bro” (de brother, irmão, mano) e “appropriating” (apropriação).
Gaslighting
Gaslighting (derivado do termo inglês Gaslight, ‘a luz [inconstante] do candeeiro a gás’) é um dos tipos de abuso psicológico que leva a mulher a achar que enlouqueceu ou está equivocada sobre um assunto, sendo que está originalmente certa. É um jeito de fazer a mulher duvidar do seu senso de percepção, raciocínio, memórias e sanidade.
No dia a dia, algumas frases são características deste tipo de comportamento: “Você está exagerando”; “Pare de surtar”; “Não aceita nem uma brincadeira?”; “Você está louca”; entre outras.
É um comportamento que afeta homens e mulheres, mas as mulheres são vítimas culturalmente mais fáceis. (Jornal da Orla)
Fonte: Josi Gonçalves