SÉCULO recebe denúncia de maus-tratos em abrigo de animais de Porto Velho
Número de pets abandonados no estado, como reflexo da pandemia, causa transtornos à comunidade e até desavenças entre vizinhos. Há ações efetivas para enfrentar o problema, porém, protetores seguem precisando de ajuda
Por Mario Quevedo
O que parecia ser um simples desacordo entre vizinhos no bairro Lagoinha, em Porto Velho, acabou se revelando numa demanda de grandes proporções que está causando problemas para toda a população na capital: a grande quantidade de animais domésticos abandonados pela cidade desde que começou a pandemia.
A situação alertou a reportagem a partir de uma postagem em rede social onde era denunciada a situação de um abrigo de animais que, segundo o autor, estava criando problemas para a vizinhança. Nos posts havia uma filmagem que, em princípio, avalizava a queixa.
Em contato com a pessoa que fez a denúncia se chegou à vereadora Márcia Socorrista, que há muitos anos se dedica a causa dos animais abandonados que perambulam na cidade e que é a mantenedora do abrigo em questão.
Daí em diante se descortinou uma realidade cruel, que está afetando a população como um todo e que vem sendo enfrentada pela socorrista e algumas entidades, tendo o engajamento da primeira-dama do município, Ieda Chaves.
A DENÚNCIA INICIAL
Sobre a denúncia em si, foi apurado que o caso chegou a ser levado ao Ministério Público que, em relatório apresentado à reportagem, comprovou que a situação do abrigo está sob controle, não há maus-tratos a animais e que o local vem funcionando bem, na medida do possível. As queixas que mobilizaram a Polícia Ambiental a visitar o local não se confirmaram.
Márcia Socorrista credita a reclamação a apenas um vizinho, e diz até compreender que realmente, durante o momento da limpeza diárias no canil, os animais ficam alvoroçados e fazem barulho, “mas são tomados os devidos cuidados para que isso aconteça em período de dia claro, ocasião em que não se incomoda o sono dos moradores”.
A protetora apresentou dezenas de imagens de animais que ela vem atendendo no local, prestando serviços de primeiros-socorros em muitos casos, além de cuidar da higiene e promover castrações, assim como campanhas de adoção. “Porém, é mais ou menos como enxugar gelo, dada à enorme quantidade de pets soltos nas ruas, a qual se multiplicou desde que começou a pandemia. Vivemos o caos”, afirma a vereadora, que há cerca de uma década milita pela causa e apoia entidades que atuam na área.
Márcia afirma que precisa de apoio da sociedade até mesmo para conseguir um lugar mais apropriado para atender esses animais, de preferência fora do perímetro urbano. “Mas, atualmente, não temos alternativa. É isso ou então soltá-los nas ruas”.
Ela conta que são cerca de vinte protetores independentes que estão na mesma situação que ela. “A gente faz o que pode, atende os animais que estão nas ruas e tenta conscientizar a população”, explica.
Entre os problemas provocados pela situação estão acidentes de trânsito, ataques a transeuntes, maus-tratos e risco de agravar ainda mais a situação sanitária com a propagação de zoonoses. Só pra constar, vivemos no mundo uma situação de pandemia em virtude de uma doença de animais que começou a atacar humanos.
Sobre a situação com o vizinho, que pediu para não ser identificado na reportagem, Marcia afirmou que resolverá através dos meios legais e quanto à questão dos animais soltos nas ruas, continuará a usar seu mandato para enfrentar a demanda.
A reportagem de SÉCULO também entrou em contato com a primeira-dama para apurar sua participação nesta ação. Ela respondeu através de sua assessoria, que nos encaminhou a seguinte resposta:
“Diante da situação de abandono de animais, a primeira-dama de Porto Velho, Ieda Chaves, tem buscado alternativas para contribuir de forma efetiva na causa animal. Na última semana, uma ação social de castração animal foi realizada no distrito de São Carlos, em parceria com a vereadora Márcia Socorrista e o apoio da Prefeitura de Porto Velho”, diz a nota, que continua:
“Essa ação, que teve início em São Carlos, pretendemos estender a todo Baixo Madeira. Trata-se de uma mobilização em apoio à vereadora Márcia, que é uma defensora da causa animal, tem ONG e toda uma experiência nessa área. A Prefeitura de Porto Velho apoiou com a logística para levar a equipe até o distrito, a Sema doou a ração e a escola municipal também foi cedida para que a ação fosse realizada”.
A nota prossegue informando que, nesta única ação, cerca de cem animais foram beneficiados. “O custeio dos médicos veterinários que atuaram na ação, que também contribuíram cobrando um valor mais baixo por seus serviços, foi através da doação mensal que o prefeito Hildon Chaves faz de seu salário municipal, que tem contribuído com diversas causas sociais na cidade de Porto Velho e seus distritos, viabilizando ações como esta”.
Ainda de acordo com as declarações da primeira-dama, uma licitação está em andamento e, nos próximos meses, Porto Velho terá clínicas conveniadas com a prefeitura para fazer esse serviço de castração em animais.
Além da castração de cães e gatos no distrito de São Carlos, cinco animais que precisaram de assistência médica foram encaminhados para a região urbana de Porto Velho para internação.
Ieda Chaves adianta, ainda, que uma feira de adoção de animais deve ser realizada na capital para ser uma forma de incentivar às famílias neste gesto tão bonito, que é adotar, cuidar e amar. “Resgatamos, em São Carlos, oito filhotes. Estamos cuidando deles e, em breve, vamos realizar essa feira para incentivar a adoção e evitar que os animais sejam abandonados nas ruas’, adiantou Ieda.
EM VILHENA ONG ATENDE 350 ANIMAIS EM SITUAÇÃO DE ABANDONO
A situação retratada na capital parece estar se refletindo por toda parte, e em Vilhena não é diferente. Segundo a dirigente da Associação de Proteção Animal Amor de 4 Patas, Sabrina Santos da Silva, o número de pets abandonados desde que começou a pandemia pelo menos triplicou na cidade.
Ela afirma que há situações de todos os tipos detectadas, como o abandono de animais em depósitos de lixo e na rua, geralmente filhotes de cães e gatos, além de resgate de animais torturados por pessoas ou atropeladas, involuntariamente, mas que não recebem socorro. “Também há situações que são reflexo direto da pandemia, como animais de estimação de pessoas que morreram e que acabaram ficando sem cuidadores, assim como de pessoas que vão embora da cidade e chegam a deixá-los amarrados em quintais”.
Sabrina complementa que, “estamos trabalhando com uma demanda muito acima de nossa capacidade de atendimento e, atualmente, cuidamos de 100 cães e 250 gatos em nosso abrigo ou em lares temporários”.
SEM APOIO DO PODER PÚBLICO EM VILHENA
A dirigente do Grupo 4 Patas reiterou que não tem conhecimento de nenhuma ação do poder público voltada a atender esta demanda, assim como não dispõe de apoio algum das instituições municipais para conseguir manter suas atividades.
“Fazemos nossas ações com muita dificuldade, custeando as despesas com rifas, bazares e contribuições de voluntários”, destacou.
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação