OUTUBRO ROSA, NOVEMBRO AZUL
Nos dois meses reservados a uma atenção maior sobre os cânceres de mama e próstata, o relato de quem já enfrentou ou está enfrentando a doença
Por desleixo, esquecimento ou até medo, muitas mulheres não realizam o exame preventivo do câncer de mama. Não façam isso! Este é o alerta de todos profissionais da saúde uma vez que a doença atinge cerca de dois milhões de mulheres por ano no mundo e pode ser curada quando diagnosticada precocemente.
Além dos exames de imagens – mamografia, ultrassom e ressonância magnética – as mulheres e também os homens – devem fazer o autoexame de mama como forma de prevenção. Médicos oncologistas afirmam que uma alimentação saudável, a prática regular de atividades físicas e a redução do consumo de álcool e tabaco também estão entre medidas preventivas que podem evitar até 28% de casos da doença.
Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são a existência de nódulo (caroço) fixo e, geralmente, indolor; mudança na posição ou formato do mamilo; vermelhidão, retração ou aparência de casca de laranja na pele do seio; saída espontânea de líquido pelo mamilo e caroços no pescoço ou axilas.
Uma luta, uma oportunidade
Câncer de mama é um tumor formado pelo crescimento de células e desenvolvimento de um ou mais nódulos que podem ser curados. O problema é que nem todas as pessoas que diagnosticam a doença precocemente reagem da mesma forma. A empresária vilhenense Luciene Alves da Silva (51) mostra que iniciar tratamento o quanto antes é a melhor forma de erradicar esse mal. Ela fez isso: lutou e ganhou uma nova oportunidade de viver sem sofrimento.
A empresária descobriu que tinha câncer de mama fazendo o exame de toque. Ao perceber que havia algo errado em uma das mamas, ela foi ao médico e fez a mamografia que confirmou sua desconfiança, mas foi só na ultrassonografia que ficou confirmada a existência de um nódulo com coloração diferente, mais escura que o normal.
“A biópsia mostrou que era uma neoplasia maligna, mas antes mesmo desse resultado eu já estava sofrendo muito porque a espera do resultado é muito angustiante”, declara a empresária.
Depois da confirmação, o médico sugeriu que Luciene fizesse o tratamento em Cuiabá onde o nódulo foi removido e ela fez a primeira sessão de quimioterapia. Após cerca de 20 dias, seu cabelo começou a cair. Para facilitar o processo de cura, que provoca desgaste físico e psicológico na paciente, a família decidiu continuar o tratamento da empresária em Cacoal. A paciente fez sete quimioterapias e trinta radioterapias.
“Eu tive sorte de encontrar uma médica maravilhosa porque a confiança e empatia entre pacientes e médicos ajudam muito no processo de cura. Sempre fui otimista e, quando me sentia mais forte, trabalhava e buscava atividades que me distraiam da doença. Tenho a fé como meu maior alicerce e hoje posso dizer que estou em remissão, mas faço um tratamento por via oral que vai durar cinco anos”, observa Luciene.
A empresária também destaca a importância do apoio familiar: “O momento é difícil para todos e uma família unida, como a minha, se ampara quando tudo parece estar perdido. Meu marido, filhas, irmã e mãe foram a fortaleza que me abrigou. Foi nela que pude me tratar, sofrer, chorar e, principalmente, me curar”.
Sonho motivador
A administradora de empresas Eliane Priscila dos Santos Rocha (34), está enfrentando uma situação semelhante à de Luciene. Casada, ela identificou um caroço no seio ao fazer o autoexame durante o banho. Logo em seguida ela procurou um ginecologista que pediu um ultrassom. Com o resultado do exame, foi feito a biópsia que confirmou a doença no dia 28 de maio deste ano. O tratamento iniciou dia 17 de julho e a previsão do término do tratamento em março de 2021.
Priscila conta que a fé em Deus é o pilar mais importante para suportar o tratamento, que é longo e muito difícil, principalmente, por causa dos efeitos colaterais da quimioterapia.
“A primeira vez que fiz a químio vermelha eu fiquei muito ansiosa, com medo e psicologicamente abalada. Nesse dia, fiquei muito ruim e não conseguia dormir. De madrugada chorei e pedi a Deus para que me ajudasse a dormir porque tinha esperança de acordar melhor. Adormeci e sonhei com um caminho estreito, cheio de pedras, espinhos e cacos de vidros, mas era o único que eu tinha para seguir. Atrás de mim eu sentia uma pessoa me incentivando a seguir em frente porque, no final da estrada, tinha uma luz e alguém com os braços abertos para me receber. Quando comecei a pisar no chão, parecia que estavam sendo colocados tapetes e papelão para eu pisar. Assim, eu não sentia dores. Acordei motivada como se Deus estivesse falando pra mim: ‘minha filha não vai ser fácil, mas estarei contigo’. Eu só pedi ajuda para dormir, mas Ele é maravilhoso, simplesmente perfeito. Eu pedi uma resposta e ele me deu uma luz, uma motivação. Legal, né? Por Deus, e pela minha família, continuo firma nesta luta”, declara Priscila, que faz o tratamento em Curitiba (PR).
Idas e vindas
Já uma dona de casa de 56 anos, que mora em Colorado do Oeste, não está se adaptando ao tratamento. Constrangida, ela conta que, “não é fácil. Acredito que ninguém, algum dia, vai dizer que é. Pode ser diferente de uma pessoa para outra, mas fácil, não é. Logo que descobri o câncer comecei a me tratar em Cacoal, mas ainda no início deixei de ir às sessões de quimioterapia, mas não contei às pessoas que me apoiam por vergonha e para evitar que elas se preocupassem. Fiquei muito mal e tive que voltar a fazer o tratamento. Parentes e amigas me incentivaram, mas depois de um tempo parei de novo e, outra vez, tive que retomar as sessões. Hoje, pretendo fazer tudo direitinho porque sei, depois de muitas lágrimas derramadas, que fazer o tratamento é ruim, mas não fazer é pior ainda. Sou pobre, o que dificulta muito, mas não vou deixar mais o desânimo e o medo me tirarem do caminho da cura”, desabafa a mulher. Ela pediu para não ser identificada com medo de perder o apoio, principalmente, da família e dos amigos, caso saibam que ela sabotou o próprio tratamento por duas vezes.
Adesão
Neste mês, que é considerado internacionalmente como sendo de combate ao câncer de mama, diversas empresas vilhenenses promovem o Outubro Rosa com cartazes, acessórios e roupas na cor da campanha, para chamar atenção sobre o assunto.
Rondônia
Somente para este ano, a previsão é do surgimento de 220 novos casos de câncer de mama e 130 de câncer de colo do útero.
Quanto aos óbitos, os números apresentados pela Secretaria de Estado da Saúde demonstram que os casos continuam aumentando: de 2015 a 2019, em Rondônia, 352 mulheres morreram, vítimas de câncer de mama, sendo 128 na capital.
O estado conta atualmente com quatro instituições habilitados no SUS para tratamento de câncer. São elas: Fundação Pio XII (Hospital de Amor da Amazônia/Porto Velho), Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, Instituto de Oncologia e Radioterapia São Pellegrino e Hospital Regional de Cacoal HRC.
Brasil
O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), órgão do Ministério da Saúde, divulgou este ano, a estimativa da incidência de câncer de mama no Brasil para 2020 . Especialistas preveem 66.280 casos novos de câncer de mama para cada ano do triênio 2020-2022. Assim, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama feminino ocupa a primeira posição mais frequente em todas as regiões do País.
A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) e a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) recomendam a realização anual da mamografia regular a partir dos 40 anos em mulheres assintomáticas, como define a Lei 11.664/2008. No SUS, porém, por determinação do Ministério da Saúde, a orientação é para que a mamografia seja realizada em mulheres com idade entre 50 e 69 anos a cada dois anos.
Mundo
Em todo mundo, o câncer de mama é o tipo mais incidente entre as mulheres. Somente em 2018 foram diagnosticados 2,1 milhões de novos casos, o que corresponde a 11,6% de todos os tipos de cânceres estimados. Esse número equivale a um risco aproximado de 55 vítimas para cada grupo de100 mil habitantes. Independentemente da condição socioeconômica do país, a incidência do câncer de mama se configura entre as primeiras posições das neoplasias malignas femininas.
Detalhe: segundo informações do Inca, observou-se um declínio na tendência das taxas de incidência em alguns países desenvolvidos, parte atribuída à diminuição do tratamento da reposição hormonal em mulheres pós-menopausa.
NOVEMBRO AZUL
Tão importante quanto o Outubro Rosa para as mulheres é o Novembro Azul para os homens. O mês destinado a eles combate o câncer de próstata, tipo mais comum de câncer entre a população masculina, sendo a causa de morte de 28,6% dos pacientes que desenvolvem neoplasias malignas. No Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Século conversou com Juarez de Souza (55), mecânico que descobriu o câncer de próstata num exame que fez em novembro do ano passado, quando sentiu-se incentivado a passar pelo procedimento justamente pela campanha.
“Foi muita sorte eu ter ido fazer o exame, pois o câncer foi encontrado em sua fase inicial. Estou fazendo os tratamento otimista com os resultados e aconselho todos os amigos a fazer o exame. Assim como no meu caso, esse exame pode salvar suas vidas”, declara Juarez.
O mecânico conta que jamais tinha feito o exame, tanto por medo quanto por vergonha. “Porém, é preciso superar esses inconvenientes, pois nossas vidas valem mais que eles”, reforça Juarez, que preferiu não ter sua foto publicada.
O que é a próstata?
É uma glândula do sistema reprodutor masculino, que pesa cerca de 20 gramas, e se assemelha a uma castanha. Ela localiza-se abaixo da bexiga e sua principal função, juntamente com as vesículas seminais, é produzir o esperma.
Sintomas:
Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas e quando alguns sinais começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Na fase avançada, os sintomas são:
• Dor óssea;
• Dores ao urinar;
• Vontade de urinar com frequência;
• Presença de sangue na urina e/ou no sêmen.
Fatores de risco:
• Histórico familiar de câncer de próstata: pai, irmão e tio;
• Raça: homens negros sofrem maior incidência deste tipo de câncer;
• Obesidade.
Prevenção e tratamento:
A única forma de garantir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco, ou 50 anos sem estes fatores, devem ir ao urologista para conversar sobre o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos, e sobre o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico). Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração no toque retal. Outros exames poderão ser solicitados se houver suspeita de câncer de próstata, como as biópsias, que retiram fragmentos da próstata para análise, guiadas pelo ultrassom transretal.
A indicação da melhor forma de tratamento vai depender de vários aspectos, como estado de saúde atual, estadiamento da doença e expectativa de vida. Em casos de tumores de baixa agressividade há a opção da vigilância ativa, na qual periodicamente se faz um monitoramento da evolução da doença intervindo se houver progressão da mesma.
Reportagem: Ladilane Gabriel
Campanhas nas unidades de saúde, empresas, redes sociais e veículos de comunicação alertam homens e mulheres sobre a prevenção aos cânceres de mama e de próstata. Mesmo assim, dezenas de milhares de mortes pelas doenças acontecem todos os anos no Brasil