Livro orientado sobre como restaurar áreas de Reserva Legal com araucária
A publicação foi editada pela Embrapa Florestas, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Instituto Água e Terra do Paraná (IAT-PR), com apoio da empresa Gralha Azul Transmissão de Energia SA, operada pela ENGIE Brasil Energia.
Modelos de restauração florestal e suas específicas
O primeiro modelo de restauração propõe o planejamento consorciado de araucária, bracatinga-comum e bracatinga-de-arapoti, cuja implantação é destinada a áreas abertas, como pastos degradados ou recém-abandonados, cujas terras possuem baixa vocação agrícola. A regeneração natural no sub-bosque é preservada ao longo do tempo, para permitir o enriquecimento da biodiversidade das espécies. O foco deste modelo é o manejo da RL para produção de lenha, mel e madeira.
O segundo modelo proposto apresenta uma proposta de restauração de RL com geração de renda, o que é viabilizado por meio do plantio consorciado de araucária, erva-mate e bracatinga-comum. O diferencial deste modelo é a opção por mudas enxertadas de araucária, possibilitando o início da produção de pinhões em árvores mais jovens, entre seis a dez anos, em comparação com a produção de árvores provenientes de sementes, que levam de 12 a 15 anos para começar a produzir. A erva-mate é plantada com alta densidade de mudas, gerando uma significativa colheita de folhas a partir do terceiro ano de cultivo, sendo a principal fonte de renda na primeira década pós-implantação do sistema consorciado. Posteriormente, aos 20–25 anos após o plantio, iniciou-se o manejo florestal para retirada de madeira de araucária.
O terceiro modelo de restauração de RL consiste na implantação de um sistema consorciado com erva-mate, espécies de suporte, como açoita-cavalo, araucária, bracatinga-comum, canela-branca, louro-pardo, mandiocão, pessegueiro-bravo e pinheiro- bravo, aliado a plantas medicinais, como espinheira-santa, cataia e pau-de-andrade. Nas primeiras décadas, o erval é manejado de modo semelhante ao convencional, sendo a principal fonte de renda, juntamente com a produção de mel. A cataia gera rendimentos econômicos a partir do quarto ano, seguidamente, bem mais tarde, pelas demais espécies, com produção de madeira, pinhão e tecidos medicinais.
Em todos os modelos é possível aliar a criação de abelhas sem ferro ou meliponíneos. Segundo Guilherme Schühli, pesquisador da Embrapa Florestas e um dos autores deste capítulo, “a criação de abelhas é um serviço ambiental, tanto ao produtor quanto ao meio ambiente, mas também uma possibilidade de diversificação de renda, permitindo o aproveitamento dos recursos florestais disponíveis na RL”.
Há um capítulo específico com orientações de técnicas silviculturais para a implantação e manutenção de modelos de RL com araucária, com informações práticas sobre amostragem de solo; controle preventivo de formigas cortadeiras; limpeza da área e controle de plantas indesejáveis em pré-plantio; calagem; alinhamento de plantio; preparo do solo; adubação de base; qualidade de mudanças; planejamento, orientação e replantios; proteção de mudas de erva-mate; controle sistemático de formigas cortadeiras em pós-plantio; controle de plantas indesejáveis em pós-plantio; e adubação de manutenção em pós-plantio.
A publicação aborda, também, a legislação ambiental atual relacionada às ações e atividades realizadas anteriormente, durante e após o processo de implantação dos modelos de restauração de RL, de modo que o agricultor se cumpra com as prerrogativas previstas pelos órgãos competentes.
Para Amauri Ferreira, gerente estadual do IDR-Paraná, a publicação deve servir como base para os técnicos do Instituto que trabalham diretamente com os produtores. “Ainda não encontramos referência bibliográfica sobre o assunto. As informações contidas nesta edição vão dar subsídio aos técnicos do Instituto que atendem os produtores nas Unidades de Referência, fortalecendo a intenção de aliar proteção ambiental com lucratividade na produção de araucárias, que é a árvore símbolo do nosso estado”, afirma o gerente.
Projeto ConservAção Araucária
O livro é resultado do projeto ConservAção Araucária , desenvolvido de 2020 a 2022, uma parceria entre a Embrapa Florestas e a Gralha Azul Transmissão de Energia SA (subsidiária da Engie Brasil Energia), com apoio do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR -PR) e Instituto Água e Terra do Paraná (IAT-PR), que teve como um dos objetivos a instalação de unidades de referência tecnológica (URTs) para demonstração de técnicas de plantio de Araucária angustifolia em propriedades de agricultores paranaenses como estratégia de transferência de tecnologia. Segundo Ives Goulart, analista da Embrapa Florestas, que coordenou a implantação das URTs, “a ideia é que se tornem vitrines e que outros produtores conheçam a sistemática de implantação e seus benefícios”. O IDR-PR coordenou os trabalhos de campo, como a escolha de 12 famílias de agricultores com perfil inovador que se ofereceram parcerias do projeto, possibilitando a implantação de modelos de restauração de RL nas respectivas propriedades rurais. Além disso, o IDR-PR colaborou na elaboração técnica dos três modelos de restauração de RL, prestou toda a assistência técnica aos agricultores, e disponibilizou duas fazendas experimentais para a instalação desses modelos. O IAT-PR forneceu ao suporte técnico em termos de conceitos ambientais, além do fornecimento gratuito das mudanças de todas as URTs.
“Para nós, é extremamente gratificante estar ao lado da Embrapa na realização de um projeto que alinha geração de renda à conservação ambiental e que, com isso, promove o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais”, avalia Karen Schroder, Gerente de Meio Ambiente da ENGIE Brasil Energia, que opera Gralha Azul Transmissão de Energia SA “Sabemos que, como uma empresa líder em energia renovável, a conservação da biodiversidade não só precisa integrar um dos nossos compromissos com o meio ambiente, mas também estar entre as principais estratégias do nosso negócio ”, completa.