Ferramenta de quebra do coco babaçu é premiada pela Fundação BBde Tecnologia 2021
A pesquisa da Embrapa Cocais ganhou mais um reconhecimento nacional. A ferramenta de uso individual para quebra do coco babaçu, desenvolvida pelo pesquisador José Mário Frazão em parceria com o engenheiro Ivanildo Madeira Albuquerque e participação de quebradeiras de coco foi premiada este mês pela Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social 2021. A ferramenta foi selecionada considerando-se a efetividade, inovação, sistematização da tecnologia e a interação com a comunidade.
“As quebradeiras de coco compartilharam o desejo por um equipamento de uso individual, mecanizado, acionado manualmente e acessível economicamente e que ainda não descaracterizasse a essência do extrativismo do coco babaçu. Toda habilidade do processo artesanal que a mulher quebradeira de coco usa para seu trabalho foi aproveitada na ferramenta de quebra do coco. Com os testes de laboratório e as experiências das quebradeiras de coco, chegamos a uma segunda versão. As duas foram demonstradas para os técnicos da SAF e ainda para quebradeiras convidadas que ainda não conheciam a ferramenta”, resumiu o pesquisador José Mário Frazão. A ferramenta é uma tecnologia social, ou seja, desenvolvida em interação com a comunidade, representando efetiva solução inovadora para resolver problemas sociais. O protótipo é resultado dessa criação conjunta entre inventores e quebradeiras. “Juntos, fizemos adaptações de acordo com as necessidades e contribuições das quebradeiras de coco. O resultado foi uma ferramenta ergométrica que propicia que a extração da amêndoa seja feita com a pessoa sentada em uma cadeira, sem uso do facão e com uma força menor que a empregada anteriormente para quebrar o coco”, explicou Frazão.
O engenheiro Ivanildo Madeira Albuquerque ressaltou os benefícios da ferramenta para as quebradeiras de coco. “Construímos o protótipo movido pelo idealismo de incluir socialmente esse grupo social e resgatar a cultura das mulheres quebradeiras, adaptando a máquina à realidade delas, com resultados muito bons também para a produção. Pensamos em um modelo para melhorar as condições de trabalho e de vida das mulheres, que garantisse mais proteção à saúde delas. Fizemos muitos protótipos até chegarmos nesse protótipo atual, que reduz o emprego da força na quebra do coco, pois tem mais potência no corte, que é acionado via alavanca. Acredito que o produto tenha potencial de deixar um legado bastante positivo para o extrativismo do coco babaçu”.
Para Roselma Licar, Presidente do Clube de Mães Lar Maria, da Comunidade Quilombola Pedrinhas Clube de Mães, de Anajatuba-MA, a experiência com a ferramenta está comprovando que a tecnologia social garante mais salubridade à atividade de quebra do coco e aproveitamento integral do coco, o que significa mais renda e qualidade de vida às comunidades extrativistas de coco babaçu do Maranhão. Rosa Gaspar, quebradeira da comunidade quilombola Boa Vista, município de Rosário, testou a tecnologia e ficou bastante entusiasmada. “Isso que precisamos, de pessoas pensantes e criativas para criar alternativas para o nosso trabalho. Percebi que a operação da ferramenta não necessita de força excessiva, já que possui o mecanismo multiplicador da força humana. Também senti a segurança e o conforto que o equipamento proporciona. Eu aprovei a máquina. Nós testamos, nós queremos”, emendou campanha.
Durante o desenvolvimento da ferramenta, foram realizados testes e validação da ferramenta com grupos organizados de quebradeiras de coco nos municípios maranhenses de Itapecuru-Mirim, Caxias, Cajari, Anajatuba, Pindaré-Mirim, Alto Alegre do Pindaré e Lago do Junco. Foram obtidas percepções e sugestões das quebradeiras de coco para melhoria da ferramenta em desenvolvimento. Um primeiro protótipo de estação de trabalho foi colocado, durante dois anos, em operação na Cooperativa Babaçu é Vida, em Itapecuru Mirim, para ser testado pelas quebradeiras de coco. O segundo protótipo foi criado para se adaptar às sugestões colhidas pelas suas usuárias.
Para Joaquim Costa, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Cocais, a premiação é um reconhecimento à equipe da Embrapa Cocais e parceiros, pelo excelente trabalho realizado, coordenado pelo pesquisador José Mário Frazão, cuja história profissional é ligada ao desenvolvimento de tecnologias e inovação para a melhoria de vida das comunidades de quebradeiras de coco babaçu.
Sonho construído em parceria com a pesquisa
O extrativismo do babaçu tem sido fonte de renda para diversas famílias brasileiras há décadas, sem evolução no sistema de produção. É caracterizado pelo uso manual de machado e um porrete para a quebra do coco, trabalho penoso, responsável por doenças laborais e abandono da atividade.
A ferramenta para quebra do coco foi criada a partir da demanda das próprias quebradeiras de coco, durante edições do Babaçutec, evento da Embrapa Cocais que discute temas de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I) para a cadeia de valor do babaçu, e em oficinas regionais realizadas em diversas regiões do Estado, com agroextrativistas. Nesses momentos, as quebradeiras compartilharam sonhos para a melhoria de suas condições de trabalho e de vida e proteção à saúde. Entre eles, o desejo por um equipamento de uso individual, mecanizado, acionado manualmente e acessível economicamente.
Outra característica importante é que essa máquina não descaracterizasse a essência do extrativismo do coco babaçu e que auxiliasse no processamento integral do coco, não somente o aproveitamento da amêndoa e da casca. “Na época, já existiam cerca de 100 máquinas com pedidos de patentes, mas nenhuma delas atendia às expectativas das quebradeiras de coco. Ou eram muito grandes, ou fora da realidade delas ou simplesmente não funcionavam. A ferramenta é resultado dessa criação conjunta entre pesquisadores e quebradeiras”, relembra o pesquisador José Mario Frazão.
Os recursos para a o desenvolvimento da tecnologia inovadora vieram da Fundação de Amparo e Desenvolvimento Científico do Maranhão – FAPEMA e do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), por meio do Projeto Bem Diverso, fruto da parceria entre Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Fonte/ Foto: Embrapa