Recursos naturais escassos e acesso a industrializados impactam na alimentação dos quilombolas

Recursos naturais escassos e acesso a industrializados impactam na alimentação dos quilombolas

Esse cenário e visão dos envolvidos, especialmente, as mulheres, estão no artigo Comida de hoje, comida de ontem em quilombos na Amazônia Oriental do Pará , publicado recentemente na Revista de Economia e Sociologia Rural, com autoria da Embrapa Amazônia Oriental.

Dalva Mota , pesquisadora da Embrapa, explicou que uma pesquisa atualmente a perspectiva de gênero e geração em três comunidades quilombolas do nordeste paraense, região mais antropizada do Pará e foi realizada por meio de entrevistas e workshops com 54 pessoas nos quilombos Jacarequara, Tipitinga e Pimenteira , no município de Santa Luzia do Pará,

Para a pesquisadora, o processo de transição alimentar que está sendo vivenciado em comunidades é complexo, pois evidencia a desproporcionalidade entre as condições de produção de alimentos nos territórios no dia a dia, em contexto de emergência climática, pouca terra e falta de apoio.

“Paradoxalmente, essas pessoas têm uma disponibilidade, em qualquer lugar, de produtos com origens industriais e ultraprocessados. O artigo chama a atenção para um processo de transição que não trata apenas de comida, mas do acesso restrito à condição de produção e à dependência externa”, enfatiza a pesquisadora

Embora a transição alimentar esteja em curso, a pesquisa mostra a riqueza cultural e econômica que é possível ser gerada com alimentos, a partir dos produtos tradicionais. “São receitas ancestrais transformadas na realidade atual a partir da comida dos idosos, dos avós, quer seja as comidas que são possíveis de serem feitas hoje com maior praticidade e uso de utensílios, colocando a própria tecnologia à disposição das pessoas”, relata o cientista

 

Os quintais, como locais de produção de alimentos e de encontro familiar, revelaram componentes importantes da autonomia alimentar ainda existente, descrevendo o artigo. “Além da produção de subsistência e venda, os alimentos são enviados aos familiares residentes nos centros urbanos, preservando os laços comida, cultura e família”.

Dalva citou como exemplo os carás, frutas, farinha, macaxeiras e alertou para o fato de que os dados obtidos não conotam ao saudosismo, pois a tecnologia e a praticidade também são um direito das comunidades, mas de se estimular, utilizar e potencializar os recursos alimentares segurança do território.

A experiência da Rede Bragantina

Localizada no Nordeste paraense, mesma região em que a pesquisa foi realizada, a Rede Bragantina de Economia Solidária Artes & Sabores é incluída por 15 organizações associativas, atuantes em quatro municípios com participação de comunidades quilombolas e agricultores de familiares.

Por meio da organização dos atores sociais no território, a rede comercializa produtos agroecológicos em feiras e ponto próprio na capital paraense, se destacando ainda pela produção tradicional de farinhas alimentares a partir do excedente da produção.

Desta forma, sem a praticidade e a tradição alimentar, na oferta de farinhas à base de frutas e tubérculos, como o cará, na preparação de mingaus, bolos e biscoitos. “São produtos processados ​​pela Rede que facilitam o dia a dia de quem faz a alimentação da família, nas comunidades e na cidade, proporcionando uma releitura da tradição alimentar com alimentos saudáveis ​​e renda”, fala Dalva.

 

 

Artigo

Comida de hoje, comida de ontem em quilombos na Amazônia Oriental do Pará , publicado na Revista de Economia e Sociologia Rural, tem como autoras Dalva Maria da Mota, Embrapa Amazônia Oriental; Ana Felicien, Programa de Pós-graduação em Agricultura Amazônica (PPGAA), Universidade Federal do Pará (UFPA); Quimera de Moraes Peixoto, Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas (PPGAA), Universidade Federal do Pará (UFPA); e Nazaré Reis Ghirardi, Rede Bragantina de Economia Solidária.

A Revista de Economia e Sociologia Rural é uma publicação da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural (SOBER), com fluxo contínuo. O seu objetivo é divulgar e difundir os resultados de pesquisas nas áreas de economia, administração, extensão e sociologia rural, e em consequência, promover e estimular o debate de temas e fatores de importância econômica e social, bem como colaborar no desenvolvimento científico e tecnológico , do Brasil e em outras partes do mundo.

Acesso ao artigo: https://www.scielo.br/j/resr/a/rpkCGT9yNKnYXnNGy5kNbXt/?lang=pt#

Fonte: Embrapa Foto: Dalva Mota/Embrapa