EM DETALHES: Éguas de brasileira que mora nos Estados Unidos passam fome e morrem em Vilhena

EM DETALHES: Éguas de brasileira que mora nos Estados Unidos passam fome e morrem em Vilhena

Proprietária é acusada de não mandar dinheiro para os cuidados adequados aos animais

Por Maria R. Gabriela

Sete equinos morreram por sofrer maus-tratos e outros sete foram resgatados em condições precárias numa propriedade rural na área da Cooperfrutos, em Vilhena.  No momento em que uma veterinária e representantes da prefeitura e da Polícia Ambiental chegaram ao local, na segunda-feira, duas éguas estavam caídas lado a lado: uma tinha acabado de morrer e outra estava agonizando, tendo que ser sacrificada por não ter mais chances de sobrevivência.

A situação das éguas foi exposta pelo site Extra de Rondônia na noite de domingo e comoveu muitas pessoas. Informado sobre o caso na segunda-feira cedo, o prefeito Flori Cordeiro (Podemos) agiu rapidamente para livrar os animais do sofrimento, determinando a intervenção imediata da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) que, por sua vez, acionou o Batalhão Polícia Ambiental (BPA). Representantes dos dois organismos seguiram para a propriedade onde encontraram o cenário de extrema crueldade contra éguas e potras de cerca de um ano.

“Fomos informados pelo caseiro que haviam 14 animais na propriedade que foram negligenciados, morrendo aos poucos sem alimentação e cuidados necessários. A situação teria começado depois que a dona deles, arrendatária da terra, parou de mandar o dinheiro para mantê-los adequadamente. Encontramos apenas oito éguas vivas, mesmo assim tivemos que fazer a eutanásia numa delas, que já estava praticamente morta”, relatou o tenente Trindade, comandante do BPA/Vilhena.

Segundo ele, “o caseiro nos disse que a proprietária dos animais mora nos Estados Unidos. Ela vai responder pelos crimes praticados contra os animais. Inicialmente, o caseiro foi arrolado como testemunha. No entanto, ainda estamos analisando os fatos para ver se o empregado também será responsabilizado por maus-tratos”.

Tenente Trindade: “A proprietária será responsabilizada criminalmente pelos maus-tratos”

“ABOMINÁVEL”

Conforme o tenente Trindade, os sete equinos sobreviventes apresentam quadros de maus-tratos e vários estão infestados por carrapatos. “A veterinária particular que nos acompanhou na operação se responsabilizou em cuidar dos animais por conta própria e eles foram encaminhados para um lugar seguro onde passarão a ter uma vida digna”, salientou. O tenente explicou, ainda, que no espaço onde estavam as éguas  existe o capim braquiária, que não é consumido por equinos. “O caseiro disse desconhecer o fato de os animais não comerem esse tipo de vegetação”.

Apesar desta informação à polícia, é preciso deixar claro que, na denuncia feita pelos vizinhos da propriedade, consta que o empregado responsável pela propriedade alegou não ter recursos para alimentar os animais da forma correta  e que, por isso, os animais estavam morrendo de fome. Além do mais, a veterinária que fez parte da operação e pediu para não ser identificada, esclareceu que a égua branca começou a agonizar em outro canto da propriedade e foi arrastada viva pelo empregado até junto a ossadas de outros animais.

“Ele mesmo fez esse relato. Trata-se de um homem de meia idade, simples, sem instruções, provavelmente analfabeto. Ele disse que tentou contato com a proprietária, ligando e mandando mensagens pelo Whatsapp, mas que a mulher não respondeu. E que ele chegou a comprar medicamentos baratos para usar nas éguas. Não sabemos se as demais ossadas são apenas de fêmeas ou se tinham machos no meio, mas o empregado comunicou-nos que os ossos eram de animais que também morreram de fome. Eu jamais tinha presenciado um caso tão abominável envolvendo equinos!”, disparou a profissional.

A veterinária citou que as éguas recolhidas do local estão infestadas de carrapatos e a maioria apresenta ferimentos e infecções no ouvido causadas pelos parasitas. “Uma fêmea marrom está com a saúde extremamente comprometida e não posso dar certeza de que conseguirá sobreviver, mesmo agora recebendo os cuidados necessários. Ela seria a próxima a morrer na propriedade”, adianta, acrescentando que vai arcar com os custos do tratamento de todos animais – cerca de R$ 10 mil, ao total.

Ossadas de animais mortos encontradas na área são, segundo o caseiro, resultados de fome

 

As duas últimas éguas a morrerem de fome, uma provavelmente no domingo e outra na segunda (15/07)

 

Magreza extrema, ferimentos, infestação de carrapatos e infeções de ouvido foram detectados em éguas sobreviventes

 

Esta égua perdeu a orelha por falta de cuidados

SEMMA

O biólogo da prefeitura de Vilhena, Derek Dalla Vechia Ita, afirmou que o caseiro cuida da área há cerca de um ano e que os equinos eram, na sua maioria, fêmeas receptoras (barriga de aluguel), sem raça. “O sentido de terem sido deixadas para perecer desta forma pode ser por éguas sem raça não ter valor de mercado”, assinalou.

Em princípio, a proprietária dos animais será responsabilizada pelos atos de maus-tratos aos equinos. “A Polícia Ambiental está fazendo a lavratura e nós, da Secretaria do Meio Ambiente, também vamos fazer o nosso relatório das infrações ocorridas no local”, comentou o biólogo.

Derek afirma que a prefeitura está fazendo o relatório das infrações ocorridas na propriedade

 

Equinos sobreviventes foram levados para um lugar seguro

 

Apesar de ter ido até a propriedade duas vezes para tentar conversar com o caseiro, nossa equipe de reportagem não foi recebida.

DENUNCIEM!

“Como pode um cidadão dormir em paz sabendo que do lado de fora um animal está morrendo à míngua?”, questionou o prefeito Flori, que pede à população para denunciar casos de maus-tratos a qualquer tipo de animais. “Não podemos deixar animais sofrendo, muito menos a crueldade impune”, asseverou.

Fotos: Revista Século

Fotos dos animais: Semma e veterinária