Sistema de Classificação de Terras para Irrigação agora abrange soja e arroz em todo Brasil
SiBCTI está agora disponível e habilitada para fornecer informações sobre 16 culturas agrícolas
A Embrapa acaba de lançar a terceira versão do Sistema Brasileiro de Classificação de Terras para Irrigação (SiBCTI), agora disponível para todas as regiões brasileiras e habilitada para fornecer informações sobre 16 culturas agrícolas e englobando mais duas de grande relevância nacional: soja e arroz. A metodologia permite definir a potencialidade de um ambiente para desenvolver culturas sob determinada tecnologia de irrigação, classificando a aptidão e o potencial das terras para essa finalidade.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Fernando Cezar do Amaral, coordenador do projeto do SiBCTI, o sistema pode indicar que, em determinadas regiões, de acordo com as características do solo e do sistema de irrigação, pode ser mais viável técnica e economicamente um sistema do que outro. Para a cultura do arroz, por exemplo, ele cita a inviabilidade econômica da irrigação do tipo localizada, principalmente em solos com baixa condutividade hidráulica no horizonte superficial. O pequeno espaçamento entre as fileiras do arroz implica uma quantidade tão grande de tubo gotejadores que eleva sobremaneira o custo da irrigação.
“Ainda para o arroz, temos visto o aumento da demanda por irrigação por aspersão utilizando pivôs de irrigação, principalmente na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. A produtividade é menor do que no sistema por inundação, mais usual na fronteira leste, mas a lucratividade é maior, uma vez que o manejo da cultura é facilitado, o maquinário tem menor custo e a movimentação do solo é diminuída”, acrescenta.
Já para a cultura da soja, a grande vantagem da irrigação é a maior segurança de retorno econômico, explica o pesquisador. “Com o sistema de irrigação adequado, o produtor de soja pode aumentar a produtividade da lavoura e diminuir os riscos para a colheita, pois não dependerá da chuva. Também facilita os tratos culturais, já que ele pode adubar ou aplicar defensivos via irrigação. E com a utilização de variedades precoces, é possível antecipar os plantios do milho e, consequentemente, da soja, abrindo a possibilidade até de um terceiro cultivo, como de trigo ou feijão. A irrigação é uma prática custosa, mas por diminuir o risco e aumentar a rentabilidade, justifica-se plenamente.”
Desenvolvimento sustentável
De acordo com os pesquisadores que desenvolveram o SiBCTI, com o uso adequado do sistema é possível evitar que terras que não possuam aptidão para irrigação sejam incluídas no processo produtivo, minimizando o impacto ambiental e a perda de recursos financeiros. Do mesmo modo, a partir do embasamento em uma avaliação afinada com as características do ambiente, o SiBCTI permite que áreas antes consideradas “não irrigáveis” possam ser classificadas como “aptas à irrigação”.
O sistema também possibilita o uso racional da água nos processos de irrigação, além de prevenir a salinização dos solos manejados, um grave problema ambiental e econômico, especialmente no Semiárido.
A ferramenta, disponibilizada à sociedade por meio de um software, pode servir de base para projetos de irrigação e colaborar com a execução de políticas públicas, em especial para a implementação da Política Nacional de Irrigação (Lei Nº 12787/13), conduzida pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e que tem como principal diretriz a indução à eficiência no uso de recursos hídricos para o setor agropecuário.
Semiárido motivou a tecnologia
A primeira versão do SiBCTI era específica para o Semiárido e foi lançada em 2005, fruto da cooperação entre Embrapa e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e com apoio de diversas instituições e profissionais das áreas de pedologia e irrigação. A segunda versão, entregue à sociedade em 2012 e ainda voltada apenas ao Semiárido, trazia atualizações e ampliações no banco de dados e novas funcionalidades relacionadas a potencial e limitações dos elementos solo, água e cultura vegetal, com avanços na estrutura de tecnologia da informação, o que permitiu o acesso às informações em ambiente web.
A partir de 2016, contando com o apoio e financiamento do Ministério da Agricultura e Pecuária, um grupo de trabalho liderado pela Embrapa Solos (RJ) deu início à formulação da versão nacional do SiBCTI, para abarcar todas as regiões brasileiras e ampliar o número de culturas, inserindo café, arroz e soja no rol que já contava com acerola, banana, cana-de-açúcar, capim-elefante, cebola, coco, feijão, goiaba, manga, melancia, melão, milho e uva. A terceira versão completa foi disponibilizada em abril deste ano.
Brasil tem potencial para quadruplicar sua área irrigadaDados da International Commission on Irrigation and Drainage (ICID), publicados pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), mostram que o Brasil irriga apenas 7 milhões de hectares de suas terras, ocupando a sétima posição mundial. De acordo com o MIRD, o País tem um potencial estimado de 30 milhões de hectares de área irrigada. A China é o país com maior área irrigada do mundo, com 65 milhões de hectares, seguido da Índia, Estados Unidos e Paquistão, esse último com 19 milhões de hectares irrigados. |
Café, arroz e soja na versão nacional
A validação para a introdução das culturas café, arroz e soja no SiBCTI foi realizada por meio de campanhas de campo lideradas por pesquisadores da Embrapa Solos (RJ). A observação e o estudo da realidade dos manejos permitiram o fino ajuste das diversas variáveis de solo, água, sistemas de irrigação e especificidades de cada cultura vegetal que compõem o banco de dados do sistema.
“Quando fomos procurados por técnicos do Ministério da Agricultura para aprofundar e ampliar o sistema, nós sugerimos três culturas: café, soja e arroz, que estão entre as mais cultivadas fora do Semiárido. Somente no Rio Grande do Sul, o arroz tem mais de um milhão de hectares irrigados, e grande abrangência também em Santa Catarina. A soja, apesar de não ter uma área irrigada tão grande, é a principal cultura brasileira. E o café irrigado está crescendo muito no País. Durante nossa campanha pelo Cerrado Mineiro, observamos que as lavouras de café onde era utilizado o pacote tecnológico com irrigação e colheita mecanizada eram muito rentáveis, enquanto as tradicionais vinham registrando prejuízos”, explica Fernando Amaral.
Utilização do sistema
O SiBCTI é um sistema especialista de tomada de decisão cujo elemento principal é a informação. Seu objetivo é armazenar e tratar os dados fornecidos pelo próprio usuário do software do sistema para entregar a classificação automática da terra para fins de irrigação. Bastam alguns cliques de escolha de campos e a inserção de dados de entrada. Estando sem pendências e sem valores anormais, o programa cruza todos os dados relacionados aos diferentes planos de informação (solo x cultura vegetal x qualidade e custo da água x sistema de irrigação) e apresenta a classificação final indicada para aquela situação apresentada pelo usuário.
As informações solicitadas são 18 parâmetros relacionados ao solo, como profundidade, quantidade de cálcio e magnésio, pH do solo medido em água, capacidade de água disponível, condutividade elétrica, mineralogia da argila, posição na paisagem, topografia, condutividade hidráulica, velocidade de infiltração básica, pedregosidade e rochosidade; além de parâmetros relativos à qualidade e ao custo de captação da água para irrigação, relação ou razão de adsorção de sódio, distância da captação d’água e presença de boro, ferro e cloreto.
“Um dos planos de informação inclui ainda as variáveis relacionadas às características das plantas de cada uma das 16 variedades habilitadas no sistema. A classificação é feita analisando as limitações do ambiente, especificamente a cada cultura vegetal e a cada sistema de irrigação. A metodologia conta ainda com uma classificação generalizada, que se aplica bem aos estudos de pré-viabilidade e a levantamentos de solo, de menor escala ou mais generalizados”, acrescenta Amaral.
Para facilitar a operação do sistema foram elaborados um manual de métodos dos parâmetros exigidos pelo sistema e um documento que detalha os valores e intervalos de todos os parâmetros solicitados pelo software por cultura agrícola e método de irrigação.
O SiBCTI pode ser acessado por este link.
As três versões do SiBCTI1ª versão (2005)Era específica para o Semiárido e foi lançada em 2005, fruto da cooperação entre Embrapa e Codevasf, com o apoio de diversas instituições e profissionais atuantes nas áreas de pedologia e irrigação. Estava habilitado para as culturas de acerola, goiaba, banana, manga, cana-de-açúcar, melancia, cebola, melão, coco, milho, feijão e uva.
Ainda voltada ao Semiárido, trazia atualizações e ampliações no banco de dados e novas funcionalidades relacionadas a potencial e limitações dos elementos solo, água e cultura vegetal. Houve também avanços na estrutura de tecnologia da informação, o que permitiu o acesso às informações em ambiente web. Trouxe como novidade a habilitação para a variedade capim-elefante.
A partir de 2016, contando com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), um grupo de trabalho liderado pela Embrapa Solos deu início à formulação da versão nacional, para abarcar todos as regiões brasileiras, além de três novas culturas: soja, arroz e café. A nova edição completa foi oficialmente lançada em abril de 2023. |
Curso a distância ensina a operar software do SiBCTIEstá disponível na plataforma e-Campo do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Embrapa o curso a distância que ensina a utilizar o software do SiBCTI. As inscrições são gratuitas e as aulas podem ser assistidas a qualquer momento, no computador, tablete ou celular (acesse aqui). Com carga horária de 40 horas, o curso é autoinstrucional, permitindo que o usuário siga seu próprio ritmo. É destinado principalmente a profissionais e estudantes das diversas áreas da engenharia, técnicos agrícolas, agentes de transferência de tecnologia e de assistência técnica, projetistas de irrigação, tomadores de decisões dos setores público e privado, consultores técnicos e planejadores agrícolas. |
Fonte: Embrapa Foto: Rogério Alves