Porto Velho: Redução da gravidez na adolescência é prioridade na saúde municipal

Em 2022, 447 partos em menores de idade foram registrados em Porto Velho

 

A gravidez na adolescência é um grave problema de saúde pública que, segundo a Organização Mundial da Saúde, atinge meninas e mulheres entre os 10 e 19 anos, causando danos psicológicos, físicos e sociais. Em Porto Velho, dos 2.557 partos ocorridos em 2022 na Maternidade Municipal Mãe Esperança, 447 foram feitos em meninas dessa faixa etária, dados que mostram o constante aumento no número de gestantes precocemente.

O papel da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) é garantir o bem-estar de adolescentes e jovens, através da prevenção da gravidez inoportuna e da proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (IST). O problema é comum, principalmente, em meninas e mulheres com baixa escolaridade, que não possuem instrução sobre os métodos contraceptivos. Para a secretária-adjunta Marilene Penati, a falta de orientação e o acesso à educação sexual contribuem para o aumento dessas taxas.

“Educação e saúde precisam estar de mãos dadas para a prevenção da gravidez precoce. Existe muito preconceito sobre falar de sexo com crianças, adolescentes e jovens, e esse tabu precisa ser extinto, porque somente através da orientação é que nós vamos evitar que uma criança de 12 ou 13 anos engravide e se torne mãe”.

Outro desafio enfrentado na saúde municipal é a reincidência na família. “Uma mãe que teve filho jovem, provavelmente terá uma filha que também vai ter filho jovem. A história muitas vezes se repete, e é preciso mudar essa concepção de que a menina pode engravidar ao começar a ter relações sexuais. De fato pode, mas não deve”, afirma a adjunta.

RISCOS

A enfermeira Ana Emanuela, subgerente do programa de Saúde da Mulher da Semusa, reforça que a gravidez na adolescência é de risco, pois na maioria das vezes o corpo da menina ainda está em desenvolvimento, e não totalmente preparado para ter uma gestação e/ou um parto.

“O que nós observamos é que uma gestação nessa fase da vida, traz alguns riscos para a saúde não só da mãe, mas também para o bebê. No caso de gestantes, quanto menor a idade, mais risco de desenvolver um aborto espontâneo, doenças hipertensivas na gravidez, como a eclâmpsia, além da prematuridade, anemia, retardo do desenvolvimento fetal e até mesmo depressão pós-parto. Os fatores de risco são muito maiores nessa população abaixo dos 19 anos do que em mulheres adultas”.

Muito mais que um problema de saúde pública, a gestação precoce é também um problema social, uma vez que meninas que engravidam tendem a afastar-se da escola e ficar sem acesso à educação, diminuindo a possibilidade de ocupar cargos dentro do mercado de trabalho e até mesmo favorecendo o desemprego.

Segundo Ana Emanuela, para combater esse problema “é imprescindível que o serviço público de saúde oferte na sua rede o acesso a meios e formas de prevenir, como por exemplo a contracepção aliada também à educação e orientação sexual”.

PREVENÇÃO

A Semusa oferece em todas as unidades básicas de saúde do município a possibilidade de a população aderir ao planejamento familiar, um conjunto de ações preventivas e educativas que orienta homens e mulheres sobre concepção e contracepção, proporcionando, inclusive, acesso aos métodos contraceptivos ou concepção disponibilizados pelo serviço público de saúde.

Estão disponíveis o anticoncepcional injetável, a pílula anticoncepcional, o dispositivo intrauterino (DIU), além dos preservativos feminino e masculino. A pílula anticoncepcional de emergência (ou pílula do dia seguinte) também é disponibilizada gratuitamente, não apenas para vítimas de violência sexual.

Helita Pereira tem 23 anos, é auxiliar administrativa e foi mãe aos 18 anos. Durante a sua internação na Maternidade Municipal Mãe Esperança, a jovem foi apresentada ao planejamento familiar e decidiu aderir a um método de contracepção de longa duração.

“Eu descobri minha gestação aos quatro meses, consegui estudar e concluir o ensino fundamental, mas escolhi ter apenas uma filha, por isso me cuido para não engravidar novamente”.

Para a secretária-adjunta, o planejamento familiar deve começar cedo, para reduzir o índice de gravidez na adolescência através da orientação, e, em casos como o de Helita, evitar uma nova gestação.

“O primeiro papel do planejamento familiar é orientar. Muitas vezes os pais não enxergam os filhos como adultos e como possíveis meninas e homens que engravidam. Nós aconselhamos essas famílias e oferecemos os métodos contraceptivos que são disponibilizados, não só para os adolescentes, mas para mulheres e homens de forma geral”.

SEMANA NACIONAL DE PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

A Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) promove o 1º Seminário de Prevenção da Gravidez na Adolescência, com o tema “Ampliando o olhar e promovendo o cuidado”. O evento será realizado na próxima segunda-feira (6), no auditório do Ministério Público do Estado de Rondônia, das 7h30 às 12h30, e reunirá palestras e mesas redondas para a discussão da maternidade e paternidade precoce, através da abordagem dos seguintes temas:

– A gravidez na adolescência como desafio para redução da mortalidade materna;
– O papel dos serviços públicos frente à gravidez acarretada pela violência sexual contra a criança e o adolescente;
– Cuidando do adolescer na saúde pública do município de Porto Velho;
– Um olhar sobre a paternidade na adolescência.

Texto: Taís Botelho de Carvalho  Foto: Leandro Morais

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