Ciência e tecnologia tornaram o Brasil um dos maiores produtores mundiais de alimentos
O investimento em ciência ao longo de décadas ajudou a posicionar o Brasil entre as potenciais mundiais produtoras de alimentos. Em 2021, o País registrou marcos importantes no agro: foi o maior exportador mundial de soja do planeta (91 milhões de toneladas); terceiro maior produtor de milho e feijão (105 milhões e 2,9 milhões de toneladas, respectivamente); mais de um terço da produção mundial de açúcar é gerado aqui, liderança absoluta no produto; e o maior volume de carne bovina exportada do mundo saiu daqui (2,5 milhões de toneladas).
Mesmo em culturas em desempenho menor e de produção estável ao longo dos anos, como o trigo, por exemplo, com a 23ª posição mundial, a perspectiva é de aumento da produção e busca por redução da dependência do cereal importado. Na produção de frutas, o Brasil ocupa a terceira posição, atrás apenas dos megapopulosos China e Índia, porém com exportação ainda modesta, indicando aí um grande potencial.
Os dados foram compilados pelo estudo “O Agro no Brasil e no Mundo, edição 2022” de autoria do pesquisador Elisio Contini e do analista Adalberto Aragão, ambos da Embrapa. Eles se basearam na plataforma FaoStat, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
No dia 16 de outubro é celebrado o Dia Mundial da Alimentação e os resultados do estudo demonstram a importante contribuição da pesquisa agropecuária brasileira para a alimentação no mundo. (Acesse o estudo completo em Brasil pode superar a Índia em 2023 na produção de grãos)
A ciência por trás dos alimentos
“Esses resultados são fruto de décadas de investimentos em pesquisa que transformaram o País na potência agrícola que é hoje”, diz o presidente da Embrapa, Celso Moretti. “Trata-se de um esforço contínuo e que não pode parar. No ano passado, lançamos a soja BRS 539, cultivar resistente à ferrugem asiática e ao percevejo; lançamos um bioinceticida que controla a lagarta-do-cartucho e é inofensivo a outros seres, um avanço importante para as culturas do milho e da soja; ainda elaboramos o protocolo Carne Baixo Carbono, que ao lado do Carne Carbono Neutro (também fruto de pesquisa), responde a uma demanda de países compradores da carne brasileira: a garantia de procedência de um sistema sustentável de produção. São apenas três exemplos recentes entre dezenas de soluções da pesquisa que ajudam o País a manter e expandir seu protagonismo no agro”, explica Moretti.
O presidente da Embrapa destaca que a agropecuária é um setor dinâmico sujeito a alterações climáticas, ocorrência de novas doenças, demanda por aumento da produção, exigência permanente de sustentabilidade. São desafios constantes e que exigem respostas que só um sistema bem estruturado pode suprir, segundo ele. “As instituições estaduais de pesquisa, as universidades e a Embrapa atuam para dar seguimento aos avanços na produção de alimentos. São dos laboratórios e campos experimentais que saem as soluções de que o agro precisa para crescer e produzir”, afirma Moretti. Ele informa que hoje o Brasil exporta para mais de 200 mercados em todo o mundo. Isso foi conquistado pela ciência e pelo agricultor brasileiro, que teve determinação e coragem de investir em um setor que se tornou um dos mais pujantes da economia brasileira.
Brasil na liderança da produção de café
Na produção de café (em grãos), em 2021, o Brasil liderou com 32% do mercado internacional, ou 3,4 milhões de toneladas. Em segundo lugar esteve o Vietnã, com 16,8%, seguido pela Colômbia, com 10,5%. O Brasil foi responsável por mais de um quarto (27,9%) das exportações mundiais de café, comercializando 2,2 milhões de toneladas, melhorando a sua participação relativa dos últimos dois decênios neste mercado.
Por trás dessa liderança tem muita pesquisa envolvida. Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo são os grandes centros produtores. Porém, as soluções tecnológicas desenvolvidas por institutos de pesquisa como a Embrapa, permitiram que o café estivesse presente nas cinco regiões geográficas do país. É o caso da produção cafeeira na Amazônia Ocidental e no noroeste de Mato Grosso que contam com cultivares clonais individuais de café, proporcionando liberdade de escolha e agregação de valor à lavoura.
Foram os primeiros cafés híbridos desenvolvidos para a Amazônia, plantasprovenientes de cruzamentos naturais ou direcionados que têm se destacado nas avaliações de campo por expressar as melhores características dessas duas variedades.
Com um pacote tecnológico lançado pela Embrapa Rondônia, além de o cafeicultor saber quais clones deverão ser combinados na lavoura, é possível também escolher cada material de acordo com as características desejadas: produtividade, qualidade da bebida, resistência a doenças, entre outras. Os novos materiais mostraram alta produtividade de café beneficiado, resistência à ferrugem e ao nematoide das galhas, boa qualidade de bebida e adaptação às condições edafoclimáticas da região amazônica.
Em Rondônia, por exemplo, foi possível registrar as transformações positivas nos últimos anos, com a adoção de novas tecnologias de cultivo, principalmente pela utilização de mudas clonais, práticas adequadas de manejo da cultura, uso de corretivos, fertilizantes e irrigação, práticas adequadas de manejo da cultura, uso de corretivos, fertilizantes e irrigação.
País é o terceiro produtor de frutas no mundo
O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas no mundo, com 58 milhões de toneladas, 5,4% da produção internacional. Sua produção atende prioritariamente o mercado interno, embora o Vale do São Francisco se destaque pela exportação da uva e manga de qualidade.
De acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (Abrafrutas), em 2021, as exportações de uva e de manga tiveram crescimento robusto. Somando as duas frutas, o crescimento foi de 17,93% no primeiro trimestre de 2021 comparado ao mesmo período de 2020. Os maiores importadores da manga do Vale do São Francisco são Holanda, Estados Unidos e Espanha. Já a uva, encontra na Holanda, no Reino Unido e nos Estados Unidos seus maiores consumidores. “E foi justamente a pesquisa que permitiu que uma região semiárida como o Vale do São Francisco alcançasse resultados tão expressivos para a alimentação mundial”, destacou Moretti, lembrando que a Uva Vitória, tão comum nas prateleiras dos supermercados, é resultado de pesquisa da Embrapa.
Um dos destinos das mangas brasileiras produzidas no Vale do São Francisco é a África do Sul. Com criatividade, cientistas brasileiros desenvolveram o tratamento hidrotérmico das frutas, tecnologia desenvolvida por uma rede de pesquisa liderada pela Embrapa há mais de duas décadas. A técnica consiste em em mergulhar frutas de até 425 gramas em água aquecida a 46ºC por 75 minutos, e frutas entre 426g e 650g, por 90 minutos. O processo mata quaisquer ovos ou larvas de insetos que possam estar presentes. O trabalho dos cientistas brasileiros foi desenvolver parâmetros para as condições nacionais e combater as moscas-das-frutas, já que a técnica era usada apenas para outras pragas na época.
Por muito tempo, o Brasil utilizou apenas o controle químico para combater a praga, prática que fechou as portas de alguns mercados internacionais que adotam severas barreiras fitossanitárias. Segundo o presidente da biofábrica Moscamed Brasil, Jair Fernandes Virgínio, o tratamento hidrotérmico foi fundamental para que as mangas atingissem o nível de qualidade necessário para viajar o mundo e abrir novos mercados.
O desafio de aumentar a produção de pescado
Aumentar a produção, a exportação e o consumo brasileiro de pescado é um dos desafios para os próximos anos. E a ciência agropecuária vem trabalhando nesta direção. Em 2021, o Brasil foi o 21º maior produtor mundial de pescado com 1,4 milhão de toneladas de peso vivo, ou menos de 1% do total em 2021.
Tecnologias como Tambaplus, Tilaplus e Vannaplus vem contribuindo para o melhoramento genético do pescado, permitindo a oferta de um produto de elevada qualidade no mercado.
A partir do momento em que o produtor de tilápia ou tambaqui passa a utilizar os serviços disponíveis no Tilaplus e Tambaplus terá respostas sobre o grau de parentesco entre as matrizes do seu plantel. Isso significa ter informações para planejar os cruzamentos das matrizes e, assim, aumentar o potencial genético do plantel, obtendo ganhos de produtividade.
O Vannaplus segue a mesma lógica das duas tecnologias da piscicultura. Seu uso permitirá ao produtor identificar animais geneticamente distantes e recomendar cruzamentos com maior probabilidade de sucesso. A tecnologia também promoverá a agregação de informação e valor ao mercado de matrizes da carcinicultura (a criação de camarões em cativeiro).
“A produção de pescado no Brasil ainda é um desafio para o país, mas com tecnologias disponíveis e investimento em ciência, poderemos dar saltos de produtividade no futuro”, explica Contini.
O compromisso com a alimentação mundial
Moretti destaca que dados das Nações Unidas mostram que, em 2030, o planeta deverá ter algo entre 8,5 bilhões de pessoas. Também indicam que, com exceção da Europa, os demais continentes terão incremento da população, um maior processo de urbanização e em alguns lugares, mais concentração de renda e aumento da longevidade.
Os cenários apontam um aumento de 35% de demanda por alimento, 40% de energia e em torno de 50% por água. Para ele, o Brasil com as tecnologias disponíveis e os investimentos que deverão ser feitos em ciência, tecnologia e inovação agropecuária continuarão sendo extremamente importantes no cenário de 2030.
Ele frisa que as cinco décadas recentes de inovação agropecuária no Brasil tiraram o país da condição de importador de alimentos, onde predominava a insegurança alimentar, crises de abastecimento e pobreza rural, para a condição de grande exportador e gerador de tecnologias. “No Dia Mundial da Alimentação, celebrado no dia 16 de outubro, é importante reafirmar, com base em dados robustos, que o Brasil produz alimentos e preserva o meio ambiente como poucos países ao redor do mundo. O País só chegou a esta situação porque investiu em ciência, tecnologia e inovação agropecuária”, afirma o presidente da Embrapa.
Fonte: Embrapa Foto: Luiz Henrique Magnante