INÉDITO – Tomates exóticos são produzidos em Vilhena

INÉDITO – Tomates exóticos são produzidos em Vilhena

É a segunda espécie incomum de alimento produzido, ao acaso, pelo agricultor Pedro Damacini

Por Maria R. Gabriela

A notícia de uma variedade muito estranha de abóbora sendo cultivada em Vilhena, em 2016, surpreendeu o setor de horticultura de Rondônia. Tratava-se de uma moranga – até difícil de descrever -, que o agricultor Pedro Damacini (75) havia plantado sem ter conhecimento do que iria ver em sua chácara, no setor Pioneiro do município.

Na época, ele explicou que tinha ganho sementes de abóbora de um cunhado que, por sua vez, as havia recebido de um morador de Nova Prata do Iguaçu, Estado do Paraná. A então “estrela da chácara” tinha uma metade de aparência normal. Já na outra, era como se uma nova unidade brotasse de seu interior.

Depois dar muito o que falar, a moranga esquisita, mas muito saborosa, caiu no esquecimento. Eis que agora, seis anos depois, outra novidade com certeza vai atrair novamente os olhares propriedade de Damacini.

Assim como ele plantou ao acaso a moranga exótica, também fincou no solo sementes de tomate que trouxeram uma nova surpresa: sete pés estão apresentando tomates de cor escura, roxa, quase preta.

O tamanho é o habitual para o tipo saladete, conhecidos por tomatinhos cereja ou da roça. Mas o roxo intenso é o que fascina. À luz do sol, os frutos ficam quase negros!

O produtor conta que, da mesma forma, ganhou as sementes de tomate, desta vez, de uma conhecida que mora em Santa Catarina. Ele não teve mais contato com a mulher e não sabe se ela está produzindo os frutos diferenciados também. “Acho incrível que apenas sete pés tenham dado esses tomates escuros, enquanto os demais saíram vermelhos, que é sua cor usual”, declara Damacini.

Ele está colhendo os tomates aos poucos, apenas para consumo próprio. Ganhamos alguns, experimentamos e podemos garantir que o sabor é o mesmo de outros tipos de saladete. Também deu para notar que em uma das unidades o interior era branco com mancha roxas claras. Já em outras, eram rosados.

O QUE DIZ A EMATER

Assim como na situação das morangas exóticas, na Emater de Vilhena o tomate roxo era desconhecido. O engenheiro agrônomo Maciel Lemos viu o fruto por foto que enviamos a ele e garantiu não ter conhecimento de nenhuma outra produção no estado.

Ele afirmou que a mudança da cor do tomate pode ter sido resultado uma mutação genética natural. “Pode ter sido um cruzamento involuntário entre materiais que originou essa coloração diferenciada, pois os desenvolvidos por pesquisas têm a polpa também roxa”.

Tomates “pretos” surgiram em meio à produção de frutos comuns

PAI DO TOMATE

Numa pesquisa por meio do Google, encontramos uma entrevista do professor Lázaro Eustáquio Pereira Peres à Revista Globo Rural, concedida em 2011. Naquele ano, a expectativa era de que o preço do tomate roxo bateria a casa dos R$ 20 por quilo. Peres, que é professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) em Piracicaba (SP) e especialista em fisiologia vegetal, estava em pleno desenvolvimento do tomate roxo. A especialidade de Peres analisa o efeito da luminosidade no desenvolvimento da planta. “A luz é essencial para a fotossíntese e o crescimento, mas também influencia o acúmulo de antocianina (substância que confere a cor arroxeada) no tomateiro, o que normalmente ocorre apenas no caule do vegetal”, explicou.

A antocianina, que ocorre em naturalmente em amora, jaboticaba e beringela, estava sendo aumentada no tomate ao unir o licopeno, já presente no produto, a outra grande fonte de antioxidantes, no caso a antocianina. Conforme Peres, a variedade roxa possui mais antioxidantes, como antocianina e vitamina C, que ajuda a proteger o organismo humano da ação maléfica dos radicais livres.

Em 2008, cientistas britânicos anunciaram ter concebido um tomate roxo, mas via transgenia, com a junção de genes de plantas ornamentais que acumulam antocianina nas pétalas. Já no Brasil, o tomate roxo é resultado de cruzamento convencional, com a associação do conhecimento de fisiologia ao uso de espécies selvagens. Para se chegar à variedade, foram utilizados progenitores oriundos das Ilhas Galápagos e do Chile e de uma mutação que surgiu naturalmente no tomateiro. Essa mutação “engana” a planta e faz com que ela pense que há muita luz, potencializando a cor roxa no fruto.

Para avaliar os benefícios à saúde, os europeus utilizaram ratos propensos ao câncer e concluíram que a ingestão de tomate roxo aumentou o tempo de vida dos animais.

 CHAMARIZ

O grande chamariz do tomate escuro é a possibilidade de aliar seu consumo à prevenção de doenças. Isso o classifica como um alimento funcional, pois existem estudos que indicam que o progressivo consumo de antioxidantes reduz o risco de doenças cardiovasculares e o câncer.

Abóboras e tomates: duas produções raríssimas e inesperadas na mesma chácara, em Vilhena

Fotos: Revista Século

 

 

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