Você procura um grande amor?
A vilhenense Marília Cavasin não encontrou apenas um, mas muitos indivíduos apaixonantes
Por Maria R. Gabriela
O amor aos animais leva a vilhenense Marília Cavasin (39) a grandes sacrifícios, desde gastar quase tudo o que ganhava com comida e medicamentos (atualmente está desempregada) até dividir seu pequeno quarto com uma dúzia de gatos. O cenário chega a ser surreal, com potes de água e ração espalhados pelo local, além de caixas de areia que são os “vasos sanitários” dos felinos. Apesar disso, a limpeza no ambiente é impecável.
Fora aos doze bichanos acomodados em seu quarto por não serem castrados, Marília tem mais sete gatos e cinco cachorros em sua casa. Destes, quatro gatos estão em regime de lar temporário, ou seja, disponíveis para doação. Todos são donos de histórias tristes, que incluem maus-tratos e abandono.
“Eu não sei se eu os encontro ou se são eles que me encontram. Apenas sei que não consigo ver um animal sofrendo e não fazer nada. Mesmo com poucas condições, acabo recolhendo-os e cuidando deles até que se recuperem e alguém queira adotá-los. Mas, os que não conseguem novos tutores acabam ficando comigo mesmo”, conta a mulher.
Ela explica que tanto os gatos quanto os cachorros que pegou das ruas estavam passando fome e a maioria precisou ser levada para atendimento veterinário. “Alguns estavam com ferimentos horríveis, outros com doenças, ossos quebrados… Praticamente todos têm uma coisa em comum quando são resgatados: estão pele e osso de tanto ficar sem comer”.
Marília mora com a mãe, Líbera Cesco Cavasin (73), numa casa de madeira, ao lado do Ginásio de Esportes Geraldão, no Setor 8, região populosa de Vilhena. A idosa chega a proibir a filha de levar novos animais para a residência, mas acaba se comovendo ao ver a situação dos bichinhos e aceitando-os.
“DA FAMÍLIA”
Os animais adotados por Marília são considerados como sendo membros da família. Maria Bonita, por exemplo, é uma gata que está há dez anos na residência. Ela foi deixada para trás após sua antiga tutora se mudar de cidade.
Outra gata, a Marry, foi resgatada de situação de risco por um rapaz, mas estava prenha, criou e o homem não teve condições de cuidar dos filhotes. Ele procurou Marília e lhe entregou Marry com a prole, também há 10 anos. “Ele ficou com um filhote e os outros eu mandei para castração mais tarde e os doei. Porém, a mãe ficou comigo”.
Também o gato Juca encontrou cuidado e amor ao ser encontrado por Marília, em fevereiro deste ano. “Ele era recém-nascido, estava desnutrido, numa magreza absoluta, e com sarna pelo corpinho todo. Temi que não conseguisse sobreviver”, assinala a cuidadora voluntária.
Além destes, existem na moradia os gatos Ivi Maria (1 ano de casa), duas filhotes branquinhas (seis de meses de casa), Guti (filhote macho com dois de casa) e Murisquinha (também com dois meses de casa).
“Há, ainda, uma gatinha resgatada essa semana, que está em péssimas condições e será colocada para adoção após receber tratamento, e outra gata que acolhi no sistema de lar temporário, ou seja, até que alguém a adote. Essa felina estava abandonada num posto de saúde e deu cria logo depois de chegar a minha residência. Ela e os filhotes estão para adoção e serão entregues já castrados, por meio de ação social de um grupo de voluntários”, explica Marília.
Além dos gatos, estão na casa dela os cachorros Happy (que aceitou de uma irmã que precisou doá-lo por motivo de mudança, há um ano e meio), Billy Kid (resgatado de uma casa onde sofria maus-tratos), Lampião (que nasceu já na casa de Marília), Rodolfo (que o irmão deu para ela por também ter que se mudar), e Florinda (que apareceu no portão da residência debilitada e prenha). “Florinda teve doze filhotes, dos quais cinco morreram e o restante consegui doar”, diz a voluntária. Mais dois cachorros, que vivem nas ruas, vão à residência dela todos os dias para receber água e ração.
Essas gatinhas fofas, que são mãe e filhas, estão para adoção, juntas ou separadamente
UM ABRIGO DIFERENTE
A voluntária afirma que arrumar tutores para animais idosos e/ou deficientes é muito difícil. Segundo ela, as pessoas preferem filhotes ou animais jovens e saudáveis. Com isso, os que não correspondem a esses quesitos ficam sempre para trás. “Meu sonho é montar um abrigo destinado a esses animais mais velhos, doentes ou deficientes”, assinala.
Ao todo, Marília considera que já resgatou e cuidou de mais de cem animais que, ao longo dos anos, foram doados ou morreram. “Desde pequena faço isso, porém, quando comecei a trabalhar e ganhar meu dinheiro, aumentei o número de ajudas e acolhimentos”, observa.
DIFICULDADES
O problema de Marília, agora, é de que forma vai continuar tratando de todos esses animais, uma vez que acabou de perder o emprego num pet shop, devido aos reflexos da pandemia do coronavírus. Entre os cães e os gatos, alguns precisam de vacina e castração, já que a mulher não conseguiu esse serviço de forma gratuita para os adultos. Pior ainda é a situação da gata Marry, que precisa de uma cirurgia para retirada de cálculo na bexiga, ao custo de R$ 1,5 mil. “A Marry está fazendo xixi com sangue e sofre com dores, porém, eu não tenho dinheiro pra pagar a cirurgia dela. Gasto, por mês, em torno de R$ 450 com alimentação, vitaminas, vermífugos, medicamentos e atendimento veterinário, quando se faz necessário. Caso alguém queira me ajudar com estas despesas, qualquer valor será muito bem-vindo, assim como ração”, afirma a entrevistada.
O telefone de contato de Marília é o (69) 98136-2151 (também Whatsapp).
E O NOVO AMOR?
Voltando ao início desta matéria, Marília Cavasin ressalta que qualquer pessoa de bem, com coração aberto aos animais necessitados, pode encontrar um grande amor num gato, num cachorro ou qualquer bicho que esteja precisando de auxílio. “Além de nos dar uma grande alegria vê-los recuperados e contentes, os animais jamais esquecem quem os ajudou. Esse amor deles é confiável, leal e para sempre! Que tal você experimentar esse amor?”, convida a mulher.
Abaixo, cenas do dia a dia de Marília Cavasin com animais que abriga na residência dela
Fotos: Revista Século