Quando a fome virou insegurança alimentar?
Por: Josi Gonçalves
Governo deu à fome o nome de insegurança alimentar e pobre, em estado de miséria, virou pessoa em situação de vulnerabilidade social
No ano passado 19 milhões de pessoas passaram fome no Brasil, o dobro do que foi registrado em 2009. Faltou comida na mesa desses brasileiros, em parte, por causa do desemprego, uma consequência da Covid-19. Mas o maior número de pessoas que ficou sem alimento se deve a uma doença crônica chamada desigualdade social.
Chama a minha atenção a forma pomposa com que vestiram essa brutal realidade brasileira. Deram à fome o nome de insegurança alimentar e pobre, em estado de miséria, virou pessoa em situação de vulnerabilidade social.
Mas também me salta aos olhos a atuação política e social da classe média que reclama da tarifa dos impostos da energia e do combustível e do preço elevado da carne.
Revoltados, os brasileiros da classe média marcam protesto pro dia Sete de Setembro. Dizem que vão bater panelas em protesto contra o governo Bolsonaro e o posto Ipiranga Paulo Guedes que não conseguem dar equilíbrio à política econômica do país.
Reclamações legítimas e justas, saliente-se.
Mas ao contrário da classe média, o pobre não vai bater panelas. Embora elas estejam vazias. É que o pobre não se acha inserido nesse protesto.
Não pode reclamar da conta de luz, porque ela foi cortada há meses e só tem energia porque puxou um rabicho do vizinho pra poder gelar a água que reina soberana na geladeira.
Não pode reclamar da carne porque só sabe o que é proteína, quando faz um bico e sobra uns caraminguás para comprar ovo.
Não pode reclamar do combustível porque nunca teve um carro pra chamar de seu.
Não pode reclamar do preço do feijão porque só o come quando ganha uma cesta básica de algum filho de Deus.
Mas a classe média, de tanto ouvir falar em vulnerabilidade social, acha que é pobre.
Quem dera!! Há de falar o pobre se imaginando no lugar da classe média, que bem ou mal, consegue manter a energia elétrica da casa, o pão e o presunto, a alcatra e o carro que dirige para ir ao trabalho que conseguiu manter nesses tempos de crise.
Os vulneráveis sociais não vão bater as panelas no Feriado da Independência, porque, dependentes que são do favor alheio, precisam dormir cedo para levantar de madrugada e ir pra fila de ossos que o dono do açougue, da classe média, vai distribuir para diminuir a insegurança alimentar que a família vive.
Há que se dar o nome aos bois. Pobre é pobre e fome é fome. Pobre é quem não tem dinheiro e fome só dói na barriga de quem não comeu.
Olhe para a fome. Olhe para o pobre. Eles não são invisíveis.
Fonte: josigoncalves.jor.br