Publicadas portarias para Zoneamento de Risco Climático do feijão-caupi para sete estados e o DF
Foram publicadas no Diário Oficial da União as portarias para o Zoneamento de Risco Climático (Zarc) do feijão-caupi (feijão-de-corda) referente à safra 2021/2022, para os estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Tocantins, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás e também para o Distrito Federal.
O Zarc é uma política pública promovida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que tem como objetivo indicar datas de semeadura por cultura e por município, considerando a característica do clima, tipo de solo e ciclo da cultivar, de forma a evitar que adversidades climáticas coincidam com fases sensíveis das culturas e, assim, minimizar as perdas agrícolas e contribuir para o aumento da produção agrícola.
O pesquisador Edson Alves Bastos, da Embrapa, responsável técnico pelo Zarc do feijão-caupi, explica que o calendário de semeadura proposto neste zoneamento deve ser utilizado pelos produtores da cultura para que eles tenham direito aos seguros agrícolas do governo federal, como PROAGRO e PROAGROMAIS, além dos benefícios das seguradoras privadas.
O Zarc para o feijão-caupi contribui positivamente para a cadeia produtiva do feijão-caupi, com destaque para o aspecto econômico. “Ele contribui para o aumento da renda líquida do produtor, uma vez que a semeadura na época correta minimiza as perdas, aumentando a produtividade e qualidade dos grãos. Também contribui significativamente com a redução de recursos financeiros federativos, tendo em vista que a obediência ao calendário de semeadura proposto pelo Zarc Caupi reduz as perdas agrícolas em decorrência das adversidades climáticas, diminuindo, consequentemente, a emissão de seguros agrícolas pelos programas do governo federal”, ressalta Bastos.
Passos para elaboração do Zarc do feijão-caupi
A metodologia do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é padronizada para todas as culturas e no caso do feijão-caupi não foi diferente. Primeiro foram definidos os riscos relevantes para a cultura; depois foi feito o levantamento, organização e tratamento dos dados de clima, solo e planta, seguido das definições dos critérios de decisão que são o Índice de satisfação da necessidade de água (ISNA) para a cultura e os níveis de risco. As duas últimas etapas são a modelagem e simulação e por último, a validação.
A definição dos períodos de semeadura para o feião-caupi é feita com a aplicação de um modelo de balanço hídrico da cultura. A partir de 2019, houve uma melhoria do Zarc dessa cultura, quando foram estabelecidos critérios de verificação de limites adequados de temperatura para a cultura, restringindo-se os decêndios (grupos de dez dias do mês) com temperaturas mínimas médias abaixo de 18°C.
Outra melhoria foi a introdução de um critério para se evitar a colheita do feijão-caupi em decêndios com chuvas acima de 50 mm. Assim, as épocas adequadas de semeadura do feijão-caupi indicadas pelo novo ZARC-Caupi são aquelas que evitam riscos elevados de deficiência hídrica durante o ciclo da cultura, que não coincidam a colheita com chuvas acima de 50 mm e que não ocorram temperaturas inferiores a 18°C. “Ressalte-se que, por se tratar de um modelo agroclimático, parte-se do pressuposto de que não ocorrerão limitações quanto à fertilidade dos solos e danos às plantas devido à ocorrência de pragas e doenças”, explica o pesquisador.
Com as informações do clima, planta e do solo, realiza-se o balanço hídrico da cultura, por meio do qual se estima as épocas do ano que ocorrem períodos de deficiência ou de excesso de chuvas e, dessa forma, é possível se recomendar as épocas de semeadura mais favoráveis.
Após essas definições é feita a modelagem e a simulação das épocas de plantio mais favoráveis. Ao final, as informações são validadas por técnicos, produtores e demais representantes do setor produtivo local. Só depois de cumpridas todas essas etapas, as portarias são publicadas pelo MAPA.
Reuniões para validação aconteceram de forma virtual
Por conta da pandemia do coronavírus, as reuniões para validação do Zarc do feijão-caupi foram realizadas de maneira virtual durante os meses de setembro e outubro de 2020.
Como parte do processo de elaboração do zoneamento, para cada cultura é realizada a reunião de validação, momento em que a equipe da Embrapa apresenta ao público local (produtores, técnicos, instituições ligadas ao agronegócio) os resultados gerados pelo Zarc (mapas e/ou tabela) de maneira a identificar a necessidade de possíveis ajustes nas épocas de semeadura. Os mapas e tabelas são gerados na plataforma MICURA, sistema desenvolvido pela Embrapa Informática Agropecuária.
O pesquisador Aderson Soares de Andrade Júnior é o responsável pela operacionalização do sistema MICURA durante as reuniões de validação. Segundo Andrade Júnior, trata-se de uma ferramenta robusta, bastante prática e permite uma ótima interação com o público local, uma vez que é possível identificar por município as melhores épocas de semeadura do feijão-caupi e colher a percepção do produtor local acerca de possíveis ajustes.
Durante as reuniões de validação dos resultados, etapa em que o calendário de semeadura para o feijão-caupi foi submetido à avaliação desses públicos externos, foram apresentados a metodologia empregada pelo Zarc e as épocas de semeadura do feijão-caupi, considerando os tipos de solo e os níveis de risco para a cultura.
O pesquisador Edson Bastos ressaltou as vantagens das reuniões realizadas por meio de plataformas digitais. “Além da economia de recursos financeiros e otimização do tempo, tecnicamente, a grande vantagem das reuniões de validação (RV) realizadas remotamente em relação às reuniões presenciais é a participação de maior número de representantes de todas as regiões produtivas do estado em questão”, destaca,
Ele acrescenta que essa participação é fundamental, porque as reuniões de validação são utilizadas exatamente para submeter os resultados do Zarc para avaliação do público local, que conhece a realidade do clima, do solo e do cultivo do feijão-caupi na região. Quanto mais representativo o público local, mais eficiente se torna a reunião de validação.
Um pouco da história do feijão-caupi
Conhecido também como feijão-de-corda ou feijão-macassar, o feijão-caupi é uma cultura originária da África que chegou ao Brasil trazido pelos portugueses, no século XVI. Começou a ser produzido na Bahia, disseminando-se por todo o Nordeste e depois para as demais regiões do País.
A produção de feijão-caupi concentra-se nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas o consumo do produto é maior nas duas primeiras, onde, junto com o arroz, forma a base da alimentação da população. Na Bahia, é o principal ingrediente do acarajé.
Esse produto é de grande importância tanto como alimento quanto como gerador de emprego e renda. Rico em proteína, minerais e fibras constitui-se num componente básico para alimentação das populações rurais e urbanas das regiões Norte e Nordeste, onde sua produção é feita por empresários e agricultores familiares que ainda utilizam práticas tradicionais.
No Centro-Oeste, passou a ser cultivado em larga escala a partir de 2006 e a produção provém principalmente de médios e grandes empresários que cultivam de maneira tecnificada.
A expansão da cultura é resultado do desenvolvimento de variedades em sistema de cultivo totalmente mecanizado, a exemplo das cultivares com arquitetura de planta moderna, de porte semiereto e ereto, com ramos e pedúnculos curtos; variedades de ciclo de maturação mais precoce e uniforme, além da melhoria genética da qualidade de grão (cor, forma e tamanho). *Informações extraídas do folder “Feijão-caupi – Melhoramento genético para o avanço da cultura
Fonte: Embrapa Foto:Marcello Casal Jr.