CPI retoma trabalhos com depoimentos de intermediários que negociaram vacinas
Intermediários teriam negociado vacinas com o governo sem aval dos fabricantes. Marcelo Blanco deve prestar depoimento na quarta, no lugar de Francisco Maximiano, que está na Índia.
A Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) da Covid retoma os trabalhos nesta semana, após o fim do recesso do Legislativo, com depoimentos de intermediários que negociaram vacinas com o governo sem o aval das fabricantes dos imunizantes.
O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse em entrevista à GloboNews neste domingo (1º) que estão previstos os seguintes depoimentos:
- Terça-feira – reverendo Amilton
- Quarta-feira – coronel Marcelo Blanco
- Quinta-feira – empresário Airton Cascavel
Inicialmente, estava previsto o depoimento de Francisco Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos, para quarta-feira. Porém, ele viajou para a Índia em 25 de julho, tendo sido notificado pela secretaria da CPI somente no dia seguinte.
Segundo Aziz, a previsão é que ele seja ouvido na próxima semana, assim como outras pessoas ligadas à Precisa Medicamentos, empresa que negociou vacinas com o governo brasileiro sem aval dos fabricantes.
Reverendo Amilton
Primeiro depoente a ser ouvido nesta semana, o reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), teria negociado a venda da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro.
A Senah é uma organização evangélica fundada em 1999 pelo reverendo Amilton, com sede em Águas Claras (DF). Em seguida, a entidade passou a desenvolver o Fest Vida, um projeto de ação sociocultural no DF e em cidades de Goiás do Entorno do DF.
Conforme revelou o Jornal Nacional, e-mails mostram que o então diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, deu aval para que o reverendo e a entidade presidida por ele negociassem 400 milhões de doses do imunizante com a empresa americana Davati.
O nome do reverendo foi citado pela primeira vez na CPI em 1º de julho, durante depoimento do Policial Militar Luiz Paulo Dominguetti – que se apresenta como representante da Davati Medical Supply, empresa que, segundo ele, atuaria como intermediária na compra de vacinas. Ele teria ofertado 400 milhões de doses da AstraZeneca, sem aval da fabricante.
Coronel Marcelo Blanco
Ex-diretor substituto do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, o coronel Marcelo Blanco participou de um jantar em um restaurante de Brasília, onde supostamente teria ocorrido pedido de propina em negociação para compra da vacina AstraZeneca.
A presença de Blanco no jantar foi citada em depoimentos à CPI tanto por Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, como pelo cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti. Ambos foram ouvidos pelos senadores em 1º de julho.
Airton Cascavel
O empresário Airton Soligo, conhecido como Airton Cascavel, teria atuado no alto escalão no Ministério da Saúde, sem ter cargo oficial. Cascavel é próximo do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Segundo as apurações da CPI, há registros de Cascavel em ações exclusivas de gestores públicos, como agendas públicas de Pazuello sobre respiradores e ações com prefeitos e secretários estaduais de saúde.
O empresário teria atuado de maneira informal em ações da pandemia pelo menos entre maio e junho do ano passado, quando o vínculo informal veio à tona. A partir desse momento, o Ministério da Saúde o nomeou assessor especial de Pazuello, cargo que ocupou formalmente de 24 de junho de 2020 a 21 de março deste ano, quando foi exonerado.
Requerimentos
O senador Omar Aziz (PSD-AM) também informou em entrevista à GloboNews que deve ser votado na terça-feira (3) um requerimento para pedir o afastamento da secretária do Ministério da Saúde Mayra Pinheiro.
Segundo Aziz, Mayra usa a estrutura do Ministério da Saúde para propagar tratamentos não comprovados cientificamente contra a Covid. “Por isso que estamos pedindo o afastamento dela. Na terça-feira será votado o pedido de afastamento dela do MS [Ministério da Saúde]”, disse.
Ainda segundo o presidente da CPI, se o Ministério da Saúde não afastar Mayra, a comissão vai à Justiça para pedir o afastamento.