Saiba o destino do “Banheiro Coreano”, um monumento ao desperdício de verbas públicas em Vilhena
Por Mario Quevedo
Fechado há vários anos, o sanitário em formato redondo, inspirado em modelo existente na Coréia do Sul e que na verdade nunca teve utilidade que justificasse o montante de verbas que foi aplicado para sua construção, deverá em breve passar por um processo de completa renovação.
Está nos planos da administração aproveitar aquela estrutura para um equipamento destinado ao lazer, partindo de uma instalação que foi encontrada numa cidade paulista, onde uma construção semelhante acomoda um borboletário, sendo ponto turístico da cidade.
Outra alternativa que está sendo estudada é a instalação de um museu dedicado ao esporte local, que se chamaria “Museu da Bola”, sugestão da Secretaria Municipal do Esporte. A proposta se deve ao fato da estrutura ter formato de bola e estar localizada na Praça do Shopping, próxima aos principais complexos esportivos da cidade, o Ginásio de Esporte, o Estádio Portal da Amazônia e a sede da Associação Vilhenense de Vôlei.
Será um desfecho singelo para um caso controvertido que, por muitos anos, se arrasta na história administrativa de Vilhena como demonstração de menosprezo e desperdício de verbas públicas.
Para resgatar toda a polêmica em torno do chamado “Banheiro Coreano”, é preciso retornar no tempo em quase quinze anos. Em meados de 2006, mais ou menos, governava a cidade de Vilhena o jovem Marlon Donadon, que era uma espécie de “prefeito mirim”, de vinte e poucos anos, posto no cargo para representar certo clã político local.
Atuando como preposto, ele pouco fazia além de cumprir orientações de seus mentores e, eventualmente, tinha rompantes de independência, que quase nunca resultavam em ações propositivas para a cidade. O “banheiro-bola” foi uma dessas coisas.
A história registra que havia uma oportunidade de atrair investidores do outro lado do mundo, mais especificamente da Coréia do Sul, para trazer indústrias e desenvolvimento aos vilhenenses. E lá se foi uma comitiva da cidade Portal da Amazônia rumo ao Oriente, em busca dos empresários coreanos, tendo como comandante o impetuoso Marlon Donadon.
Foi um deslocamento de 34 mil quilômetros, contando ida e volta, com pagamento de passagens e diárias nababescas para a comitiva e, no retorno, o prefeito e seus asseclas trouxeram na bagagem uma promessa e uma idéia. Os coreanos ficaram de ver a possibilidade de construir em Vilhena uma fábrica de geladeiras e Marlon ficou maravilhado com um banheiro público que conheceu em Seul, no formato redondo, altamente sofisticado – o que, aliás, tornou-se o tema principal de sua prestação de contas à imprensa das conquistas da viagem.
VALOR ASTRONÔMICO
A prometida fábrica ficou na conversa, mas a idéia de construir um banheiro igual ao que ele se maravilhou lá na Coréia não saiu de seu pensamento. Marlon batalhou muito e conseguiu arranjar verbas para empreender sua relevante contribuição para a infraestrutura urbana local, destinando R$ 200 mil para viabilizar sua iniciativa, que na verdade seria uma cópia do que tinha visto no Oriente. Na época, esse valor era astronômico e, por isso mesmo, muito criticado. Mas, o intrépido prefeito-mirim não conseguiu levar a cabo sua missão e terminou o mandato sem inaugurar o “Banheiro Coreano”.
Coube ao sucessor de Marlon colocar a instalação à serviço do vilhenense, tendo sido esta a primeira inauguração que José Rover fez como prefeito da cidade, logo que assumiu seu primeiro mandato. Porém, a coisa era complicada e, como havia sido malfeito, meses depois as instalações tiveram que ser fechadas ao público porque o teto estava desabando. Houve reforma, fechamento, depredações, gastos com vigias e outras situações, sempre causando despesas ao poder público que nunca justificaram a existência destas instalações. Em determinado momento a coisa era tão grotesca que era preciso três vigias se revezando em turnos para manter o banheiro em funcionamento e, ao mesmo tempo, preservando-o da ação de vândalos.
Até que em determinado momento, não se sabe ao certo quando, mas possivelmente ainda na época em que Rover era prefeito, o banheiro-bola foi definitivamente desativado. Desde então a instalação serve como um monumento ao desperdício e ponto de aglomeração de desocupados, inclusive com consumo de drogas e, até mesmo, local de descarte de lixo.
RECLAMAÇÕES
Comerciantes das imediações reclamam da situação, que prejudica a imagens daquele setor da cidade e desvaloriza imóveis e empreendimentos na região. Por isso, a revitalização anunciada pela administração chega em bom momento.
Já foram feitos estudos e até mesmo um projeto arquitetônico para aproveitamento daquela estrutura, que na verdade fará parte de uma proposta de recuperação total da praça onde o banheiro está instalado. O certo é que, de acordo com a Assessoria de Comunicação da prefeitura, a estrutura terá qualquer outra destinação, menos a de ser banheiro público. Por enquanto ainda não há data definida para execução do empreendimento, mas é certo que o Município já está elaborando projeto para angariar recursos a fim de, finalmente, dar um ponto final para o folclórico caso.
DOIS OLHARES SOBRE O CASO
Ontem – A reportagem da Revista Século conversou com o ex-vereador Mauro Bil, que exercia mandato parlamentar em Vilhena na mesma época do então prefeito Marlon Donadon. Relembrando o episódio, Bil falou que a viagem à Coréia em si foi inútil, um descaso tremendo com recursos públicos, algo realizado apenas para atender aos caprichos de Marlon. “Eles foram até o outro lado do mundo e nada trouxeram de positivo para o município que pudesse justificar os gastos, ao contrário”, disse Mauro.
Prosseguindo, ele complementou o raciocínio afirmando que entre o desperdício de verbas houve também a realização do desejo do ex-prefeito de fazer o “tal banheiro coreano, ao custo de duzentos mil reais, coisa que na ocasião eu fui totalmente contra, já prevendo o que poderia acontecer. Deu no que deu”, arrematou.
Para Mauro Bil, o fato da atual administração buscar uma destinação mais adequada àquela estrutura é algo positivo. “É uma forma de compensar pelo menos um pouco o investimento”.
Hoje – A empresária Lilian Macedo Bonifácio, que há muitos anos trabalha nas imediações da Praça do Shopping, se diz muito incomodada com o abandono das instalações, “pois, além do desperdício de dinheiro dos nossos impostos, tornou-se um local degradado, servindo de ponto de concentração de marginais, tornando o logradouro perigoso para quem transita por ali e deve servir até mesmo para esconder alguma coisa, não sei ao certo”.
A situação incomoda muito os comerciantes do entorno da praça, pois evidentemente desvaloriza seus empreendimentos e espanta a clientela.
Ao tomar conhecimento da intenção da Prefeitura Municipal, a empresária se mostrou neutra em princípio, mas em seguida declarou que, “talvez seja uma boa ideia aproveitar a estrutura para se criar algo diferente e inovador”.
Fotos do banheiro atual: Revista Século
Foto Borboletário SP: Divulgação
Maquete: Reprodução/PMV