Internauta denuncia venda de alimento supostamente estragado por panificadora e tem que se desculpar publicamente
Ketlen Nayara afirma que achou injusta a exigência da empresa, mas aceitou atendê-la devido à ameaça de processo
Maria R. Gabriela
A consultora de vendas de produtos fotovoltaicos, Ketlen Nayara Oliveira da Silva (18), atualmente em união estável, se viu obrigada a postar um pedido público de desculpas, num grupo de vendas e trocas de Vilhena disponível no Facebook.
No sábado passado, neste mesmo grupo, Ketlen havia feito uma postagem sobre um lanche comprado numa panificadora da cidade, declarando que o produto estava estragado e criticando o estabelecimento. No post, ela anexou a foto do lanche como comprovação da denúncia.
“Naquele dia, logo pela manhã, eu passei na padaria para comprar um salgado para comer na empresa onde trabalho. Quando vi o estado do lanche, fiz a postagem falando sobre minha revolta, pois já era a segunda vez que acontecia aquilo comigo no mesmo estabelecimento. Na primeira vez não postei nada, só peguei o dinheiro de volta. Mas, desta última vez, resolvi denunciar e tive essa iniciativa porque tinha certeza que não estava acontecendo só comigo. Não era possível que só eu teria esse azar duas vezes! Então fiz o post e sofri consequências”, explica Ketlen.
A postagem da consultora de vendas recebeu diversos comentários de outras pessoas denunciando a panificadora (veja prints abaixo). No final da tarde Ketlen voltou à padaria para devolver o lanche e pegar o dinheiro de volta novamente. “Devolveram o dinheiro, mas pediram que eu apagasse a publicação e fizesse uma nota de esclarecimento pedindo desculpa pra eles. Não entrei em detalhes de como seria essa nota, fui pra casa e apaguei a publicação, conta.
INJUSTIÇA
Apesar de ter excluído a publicação, segundo Ketlen, na segunda-feira à tarde (31/05), uma advogada contratada pela panificadora entrou em contato com ela exigindo a publicação de um pedido de desculpas no grupo do Facebook. “Ela disse para eu fazer uma retração por ter difamado a empresa publicamente. Se não fizesse, ela disse que eu poderia aguardar minha intimação, pois iria abrir um processo contra mim. Essa advogada me deu um prazo de doze horas. Como a corda sempre arrebenta pro lado mais fraco, decidi fazer a retratação”, afirma Ketlen.
A entrevistada acrescenta que, “não achei justo eles me venderam um lanche estragado um ano atrás e agora, de novo, acontecer o mesmo, sem eu ter direito a reclamar. Se fosse só uma vez, poderia se dizer que era acidente, mas, duas vezes, já é demais! O fato da panificadora querer uma nota de retratação eu até entendo, pois é uma empresa, é um CNPJ que depende da compra de consumidores como nós. Porém, se ligassem tanto para a imagem da empresa teriam melhorado a qualidade dos produtos, já a partir da primeira reclamação. Mas não fizeram nada nesse sentido: desde o primeiro ocorrido para esse, nada mudou”.
CONSELHO
Apesar da dor de cabeça com a postagem, Ketlen diz que tudo que está errado tem que ser denunciado. “O conselho que eu dou a outras pessoas é que não deixem de denunciar, corram atrás dos seus direitos, mesmo que tenham que passar pelo que eu passei”. A consultora de vendas esclareceu que manterá suas redes socias ativas, “uma vez que eu não me sinto constrangida por ter feito a retratação e não me arrependo de ter feito a postagem denunciando a péssima condição do lanche. Quando me pediram para fazer o pedido de desculpas, até fiquei constrangida, mas depois pensei que, se alguém achar que estou errada, é só continuar comprando na padaria. Vá lá, compre algo perecível pra comer, e fique atento!”.
A pedido da entrevistada, o nome da panificadora e da advogada que a contatou não foram citados na reportagem.
Fotos: Arquivo pessoal
Está correto denunciar, mas na em redes sociais. Deve sim ir no Procon, ministério público, processar, enfim, denúncia consistente no lugar certo.