MECÂNICO CONSTRÓI AVIÕES EM VILHENA
Jesiel Alexandre já construiu dez aeronaves com autonomia de cinco horas de vôo
Maria R. Gabriela
A paixão pelas alturas levou Jesiel Alexandre a comprar um ultraleve. Ele não sabia, mas com aquela aquisição daria o primeiro passo para uma grande mudança em sua vida profissional.
Tudo começou em 2001, quando Jesiel era mecânico de motos em Espigão do Oeste (RO) e adquiriu um ultraleve para aprender a voar. Porém, junto com o prazer da atividade vieram os problemas para manutenção da aeronave. “Naquela época, apenas eu e mais um amigo possuíamos ultraleves na cidade e, quando surgia algum problema, dependíamos de um mecânico que se deslocava de Porto Velho a Espigão do Oeste. Com isso, qualquer pequeno serviço tinha valor elevado. Ficava claro que havia um bom mercado de trabalho aberto nessa área e, como eu já era mecânico de motos, decidi fazer cursos de mecânica aeronáutica, me especializando em motor e hélice. A partir daí, comecei a atuar nesse segmento em cidades do Mato Grosso e Rondônia”, relata Jesiel.
Em 2007, chamado por um de seus clientes para um serviço em Vilhena, Jesiel passou por uma situação perturbadora, que acabou originando outra quinada na profissão. “Aproveitei a estada na cidade para dar um passeio de ultraleve com um conhecido. No entanto, sofremos uma queda e machuquei a coluna. Como tinha dificuldades para trabalhar e não queria ficar parado, tive a ideia de construir um avião para um amigo, o que foi na verdade o início de um novo ciclo profissional”, conta ele.
O INÍCIO
Engana-se, porém, quem pensa que a tarefa de construir um avião é fácil. Jesiel só pode investir na empreitada porque fez vários cursos de manutenção aeronáutica em São Paulo e estagiava no setor de montagem das empresas depois das aulas, aprendendo tudo sobre estrutura. Com o tempo, ele passou a estudar também a engenharia dos aviões. Foi esse conjunto de aprendizados que deu ao mecânico o conhecimento técnico necessário para construir o monomotor. “Aliando a teoria e a prática ao longo dos cursos, pude comparar modelos experimentais com homologados e notei que nos primeiros havia muitas falhas. Percebi, dessa forma, que já estava apto a fazer um produto melhor”, explica.
MODELOS PRÓPRIOS
Jesiel informa que se empenhou por vários meses na construção de seu primeiro avião. O resultado foi um monomotor que, segundo ele, “ficou meio pesado” – um ponto que ele corrigiu nos trabalhos seguintes.
A notícia de que Jesiel havia fabricado uma aeronave em Espigão do Oeste correu rápida e ele passou a receber propostas para construir mais aeroplanos. “Desde então, já estou no meu décimo primeiro avião, todos fabricados dentro de uma série que eu mesmo desenvolvi, batizada de T 22”, declara.
Os modelos fabricados por Jesiel têm dois lugares, o que é permitido pela Anac na categoria que ele atua. Os aviões têm certificado de marca experimental e autorização de voo, não podendo ser explorados comercialmente.
AVIAÇÃO CASEIRA
Pelo que se sabe, o morador de Vilhena é hoje a única pessoa que construí aviões em Rondônia. Jesiel, aliás, é rondoniense, nascido em Espigão do Oeste. Em 2013, já adulto, ele se mudou para Vilhena e, em seguida, foi para Campos de Júlio. Há dois anos ele voltou a morar em Vilhena onde está construindo uma nova aeronave, denominada T 22 Evolucion – a mais top da série.
Equivalente ao americano Cessna 152, o modelo de Jesiel custa R$ 350 mil (é o mais caro) e alcança velocidade de até 220 km/hora. “Meus modelos são destinados à instrução, pouso e decolagem curta. O T 22 Evolucion tem autonomia de cinco horas de vôo, alcance de 1.080 km/h e o seu consumo é de 17 litros de gasolina por hora”, informa Jesiel, que adianta ter três objetivos em mente: conseguir o certificado LSA, ganhar o mercado americano e poder construir um avião para ele mesmo.
“São gastos de cinco a oito meses para eu fazer um avião e, além disso, há todo o custo de manutenção, locação de hangar, etc. Por enquanto, só posso fazer para os outros, mas com certeza ainda construirei o meu. Já quanto ao certificado da categoria de aeronave leve esportiva, em inglês Light Sport Aircraft (LSA), implementado pela Anac, é importante tê-lo, uma vez que seu suporte legal abre novos marcos de expansão, o que inclui as novas fronteiras de comércio”.
Um detalhe que chama a atenção é onde os monomotores são construídos, ou seja, no quintal até certo ponto apertado da casa do mecânico, onde ele vive com a esposa Rose e os três filhos (do casal).
POR ENCOMENDA
O empreendedor faz os aviões sempre por pedidos e de duas formas: ele mesmo compra tudo que for necessário entregando o produto pronto, ou o cliente fornece todas as peças e paga somente pela mão de obra. De qualquer forma, os projetos desenvolvidos por Jesiel ficam consideravelmente mais baratos que os modelos de fábrica.
“Os preços das minhas aeronaves vão de R$ 270 mil (modelo T 21 Light) a R$ 350 mil (T 22 Evolucion), enquanto um modelo básico de fábrica custa em torno de R$ 450 mil. Para quem preferir pagar apenas pela montagem dos aviões os valores variam de R$ 60 mil a R$ 80 mil”, observa.
Aviação experimental é, basicamente, a prática de construção caseira de aviões. Não é necessário possuir um diploma de engenheiro aeronáutico para tal. Já para pilotar é exigida a carteira de piloto fornecida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que é renovada a cada dois anos. Segundo a Anac existem mais de cinco mil aeronaves na categoria experimental sobrevoando o céu do Brasil. Isso inclui monomotores, ultraleves, balões, helicópteros e motoplanadores.
Projetar um avião não è fácil , não funciona como descrito na matéria. Sou engenheiro aeronáutico e digo que essa matéria è fantasiosa.
Josiel, você é uma pessoa empreendedora, vai acanto com seu projeto, e de pessoas inteligentes como você que o Brasil precisa, fico feliz em saber que em Vilhena tem você que faz a diferença. Parabéns
Excelente matéria!
Muito obrigada
Abraços