Um amor que faz a diferença

Um amor que faz a diferença

Após dois anos de muita luta, salvadores de animais em risco passam a ser reconhecidos oficialmente em Vilhena.

Gatos queimados com água quente, cães em pele e osso cobertos por feridas e bichos, cadelinhas abusadas sexualmente por “humanos”. Estes são alguns exemplos de situações encontradas, e atendidas, pela Associação Amor de 4 Patas, em Vilhena. A entidade é formada por voluntários e atua há dois anos no salvamento de animais em risco, mas apenas agora foi reconhecida oficialmente.

Enfrentando muitas dificuldades para manter o trabalho, o grupo acredita na sensibilidade de moradores e autoridades para ajudar o abrigo, ainda improvisado, com recursos financeiros.

Em entrevista à SÉCULO, a auxiliar-administrativo Sabrina Santos da Silva (37), moradora de Vilhena há cinco anos, informa que o grupo de voluntários gasta, em média, de cinco a sete mil reais por mês com alimentação, remédios e tratamento veterinário dos animais resgatados. Além disso, ela conta que a instituição precisa de cuidadores para manter, principalmente, gatos em casa até a adoção.

Sabrina é vice-presidente da Associação Amor de 4 Patas e uma de suas idealizadoras.

SÉCULO – De onde vem os recursos para manter o atendimento aos animais?

Sabrina Santos – Os recursos são de doações espontâneas, rifas e bazares que fazemos. Não recebemos nada, ainda, do poder público, tanto que até o terreno onde estamos é alugado. O grupo gasta de cinco a sete mil reais por mês, em média. São custos de alimentação, remédios e tratamento veterinário dos animais que resgatamos.

SÉCULO – Como as pessoas podem colaborar para a manutenção dos serviços dos voluntários?

Sabrina Santos – Precisamos muito de doações em dinheiro, medicação e ração, além de roupas, calçados, acessórios e demais objetos que possamos vender nos bazares beneficentes que realizamos. Outra opção é nos procurar por meio do telefone 98495-1430 para tratar da colaboração. O apoio também pode ser feito através de valor em crédito para nós nas agropecuárias e pet shops parceiros: Agrivet, Borile Agropecuária, Aves e Pet e Empório da Ração. As pessoas também podem colaborar ingressando no quadro de voluntários, tanto para trabalhar no canil quanto como cuidadores temporários de gatos que já estão se recuperando ou já foram colocados para adoção. Quem quiser pode nos ajudar, ainda, nos dias em que fazemos bazares ou vendendo nossas rifas.

SÉCULO – Foi difícil a associação conseguir o reconhecimento oficial?

Sabrina Santos – Por amor e compaixão fazemos esse trabalho há dois anos por conta própria, mas a procura foi crescendo bem como o número de voluntários. Desta forma, conseguimos registrar a associação porque antes tínhamos dificuldade com falta de voluntários para assumir os cargos necessários para a criação da entidade, ou seja, presidente, vice-presidente, tesoureiro, secretários, entre outros. Com o quadro composto passamos a lutar pela formalização do grupo e, hoje, somos a única associação oficial em Vilhena com objetivo de salvar a vida de animais em risco.

SÉCULO – Qual a importância dessa associação para o município?

Sabrina Santos – É uma importância muito grande, pois o trabalho que fazemos é essencial não apenas por compaixão dos animais, mas também para evitar riscos à saúde da população. Além de resgates e tratamento até a completa recuperação dos animais, providenciamos as castrações. Esta última medida diminui a quantidade de cães e gatos abandonados nas ruas, uma vez que as fêmeas deixam de procriar em terrenos baldios ou no meio do mato, o que também resulta em animais de rua. Como a grande maioria adquire doenças, a saúde humana fica em risco, e ainda pode haver, em casos raros, ataques de cães a pessoas. A importância do nosso trabalho aumenta porque Vilhena não tem centro de zoonoses, então fazemos o trabalho que seria do poder público.

SÉCULO – Quantos voluntários existem hoje na entidade e qual é o perfil deles?

Sabrina Santos – Hoje temos uma média de trinta voluntários, mas não basta apenas ter boa vontade: é preciso amar os animais e querer doar parte do tempo em prol da causa. Os perfis são variados. Temos de estudantes e donas de casa a empresários e profissionais liberais. Caso alguém se interesse basta nos procurar para se tornar voluntário.

SÉCULO – Em relação ao atendimento especializado, nós temos veterinários de bom coração em Vilhena?

Sabrina Santos – Graças a Deus a resposta é sim. Nossa presidente, por exemplo, é veterinária, a doutora Giovana Caroline, que, juntamente com a doutora Fabiane, ajuda nas consultas e tornam o preço bem acessível nos casos de castração se o animal for comprovadamente resgatado. Temos outros parceiros que nos ajudam com os animais prestando atendimentos e dando grandes descontos em seus produtos como os doutores José Luiz Timmermann e Luiz Gustavo, da Agrivet.

SÉCULO – Os atendimentos destinam-se somente a cães e gatos ou a outros animais também, a exemplo de pássaros e coelhos?

Sabrina Santos – Nós temos um abrigo improvisado só para cães. Também ajudamos gatos, com castração e tratamento, mas eles ficam em lares temporários. Não recebemos outros animais por falta de espaço e estrutura, mas já resgatamos pássaros e os encaminhamos para lares de pessoas que se solidarizaram com o sofrimento das aves.

SÉCULO – Quantos animais resgatados a entidade atende atualmente?

Sabrina Santos – Até hoje foram atendidos, de forma direta e indireta, mais de 500 animais. Atualmente nós ajudamos, somando dentro e fora do abrigo, uma média de cem animais, sendo cerca de cinquenta cães e cinquenta gatos. Esse número oscila porque sempre chegam novos animais maltratados ou abandonados enquanto outros são doados para famílias que querem um animal de estimação e optam pela adoção de cães e gatos que disponibilizamos à sociedade.

SÉCULO – Qual o percentual de sobrevivência dos animais recolhidos?

Sabrina Santos – Graças a Deus é muito grande. Temos perdas sim, mas os milagres da vida superam e muito as decepções com a morte. Cerca de 80% dos animais que chegam judiados até nós ficam recuperados.

SÉCULO – Há critérios para a adoção dos animais?

Sabrina Santos – Em primeiro lugar a pessoa deve ter um quintal bem fechado para evitar que eles voltem a viver nas ruas, condições de alimentá-los e fazer vacinas anuais, além de morar em Vilhena. Evitamos doar para pessoas que residam em chácaras e sítios devido a problemas já constatados, como fugas. Assim, só doamos para alguém da área rural se tivermos referências. Por fim, e não menos necessário, a pessoa precisa ter muito amor para dar a um ser vivo que já foi muito maltratado.

SÉCULO – Como está Vilhena quanto à animais em situação de risco nas ruas?

Sabrina Santos – O município tem muitos animais em situação de extremo abandono, não só nas ruas como também dentro de quintais. Alguns são “jogados fora” porque ficaram doentes. Em outros casos, os donos vão embora e os deixam presos no quintal pra morrer de fome e sede. Tivemos um caso muito grave de uma cadela deixada quinze dias presa, sem água e comida. O dono foi embora e, quando a pegamos, ela nem se levantava mais. São vários os registros de crueldade contra os bichos. Muitos chegam até nós por meio de denúncias e, em algumas situações, trabalhamos em parceria com a Polícia Ambiental.

SÉCULO – Fale sobre outros casos que mais te marcaram.

Sabrina Santos – Com certeza foi a Luzia que é paraplégica. Ela é uma lição de superação e alegria. Com o auxílio de um andador improvisado, Luzia corre pelo pátio o dia todo, está saudável e é muito carinhosa. Ela é a nossa mascote. Outro caso foi o de uma cadelinha que perdeu os dedinhos porque passou a vida em uma jaula e não tinha onde apoiar as patas nas grades. O dono foi embora deixando ela e mais três animais presos, sem água ou ração. Hoje, ela é só alegria também. Os outros três cachorros ainda estão conosco para adoção.

O SENTIMENTO DE QUEM ADOTA

Adotar um animal do Amor de Quatro Patas não é apenas uma forma de contribuir com a causa, mas também ter o prazer de receber em troca carinho e fidelidade inquestionáveis. Muitas pessoas procuram a entidade em busca de um bicho de estimação para os filhos ou até mesmo para cuidar de seus bens patrimoniais. Esses são os casos, por exemplo, do metalúrgico Arley Nunes e do casal Iara Regina e Elizaldo Barbosa .

O casal adotou um macho castrado que colocaram o nome de Pepito e uma fêmea para a qual ainda iriam escolher o nome. Eles disseram que tomaram essa decisão porque têm filhos pequenos e queriam que as crianças tivessem “amiguinhos” para brincar e cuidar.

“As crianças aprendem muito com os animais. Coisas como amor, companheirismo e perdão. Valeu a pena porque tomamos a decisão certa. Fazemos o bem dando um lar para animais que antes foram maltratados, e eles retribuem com muito carinho. Os dois filhotes são alegres e obedientes. Nada nos fez arrepender da adoção”, relata Iara Regina.

Já Arley precisa de um cachorro para cuidar da metalúrgica onde trabalha. Em uma visita para conhecer a associação e os cães que estavam disponíveis, ele considerou que poderá adotar mais de um cachorro. A sua decisão surgiu da vontade de ajudar a cuidar dos animais e, ao mesmo tempo, garantir segurança para a empresa dele.

“No abrigo tem muitos cachorros bons e bonitos. É até difícil escolher. Sei que sempre há muitos cães chegando para receber tratamento enquanto outros são adotados. Então,

como ainda vou construir um canil em nosso pátio, não vou escolher meu novo ou novos amigos agora. Vou deixar para fazer isso depois que o canil estiver pronto. Tem um em especial que, se ainda estiver aqui, vou levar”, afirmou Arley Nunes, referindo-se ao cão Bartolomeu.