Pequenos Grandes Militares
Corpo de Bombeiros Mirins de Vilhena chama a atenção do País pela alta padronização e seu modelo começa a ser copiado por outros estados. Com instruções de combate a incêndio, resgate em tragédias e sobrevivência em selva, grupamento supera expectativas em todas as atividades. O quartel mirim do muncípio tem o maior número de alunos de Rondônia e é o único a possuir coronel em suas fileiras, a mais alta patente do curso
Uma resolução de 2010, da Coordenadoria de Ensino do Corpo de Bombeiros Militares, criou o Projeto Bombeiro Mirim no Estado de Rondônia (BMM). A medida oficializou o programa que já existia em alguns municípios, a exemplo de Guajará-Mirim (desde março de 2003) e Vilhena (início de 2017). Além disso, a resolução expandiu o projeto para outros municípios, gradativamente. Motivos para tanto não faltaram, a começar pela grande procura por vagas no sistema educacional militar que, para deixar claro, não faz parte da formação escolar regular como os colégios militares. Em Vilhena, quando foi criado, o BMM tinha à frente os tenentes do Corpo de Bombeiros Jonas e Ozeni, que eram cabos na época. Atualmente, o responsável pelo projeto no município é o segundo sargento Rossendy, que tem o auxílio da cabo Fernanda.
Em entrevista a SÉCULO, Rossendy declarou que, “a alta demanda pelo curso existe até hoje e deve-se aos resultados excelentes na transformação dos alunos em pessoas de alta capacidade em diversos planos, especialmente em ações de cidadania, combate a incêndio, resgate de vítimas, primeiros- socorros e que exijam ajuda humanitária, como tragédias que atingem a coletividade”. Por seu desempenho, o BMM vilhenense está servindo de modelo até para outros estados brasileiros,
como o Pará.
Qual é o diferencial do BMM de Vilhena que o coloca como modelo para outras corporações mirins?
Sgt. BM. Rossendy – Em 2017, quando assumi o comando do BMM de Vilhena, o Comando Geral do Corpo de Bombeiros no estado padronizou o projeto, adotando as mesmas disciplinas e atividades em todas as unidades onde o Bombeiro Mirim era desenvolvido. No entanto, em Vilhena, nós conseguimos criar uma padronização militar mais forte, que passou a ser seguida por outros municípios de Rondônia. Também outros estados da federação demonstraram interesse pelo nosso modelo, tendo, inclusive, voluntários do Pará que já solicitaram nossos manuais para adotá-los como padrão. Também nas competições estaduais, que envolvem todas as corporações mirins, temos conseguindo nos sobressair. Vale destacar que o
BMM de Vilhena é o único em Rondônia que possui um coronel, a mais alta patente da corporação, e ainda possuímos o maior número de bombeiros mirins do estado.
Quero destacar o apoio que o curso teve do major Guedes em seu início e o apoio que temos do atual comandante do 3º Grupamento de Bombeiros de Vilhena, capitão José Joaquim da Silva.
Quantos alunos o BMM de Vilhena possui atualmente e quantos eram em seu primeiro ano de funcionamento?
Sgt. BM. Rossendy – No curso encerrado agora, em novembro, tivemos 82 bombeiros mirins entre formandos e graduados. Já no primeiro ano, o projeto possuía apenas trinta alunos.
Qual o percentual de desistência de alunos?
Sgt. BM. Rossendy – Em meu período de coordenador tenho uma porcentagem de menos de 10% de desistência. É um percentual relativamente baixo, levando-se em conta que não é uma formação educacional obrigatória.
Este ano, por exemplo, iniciamos com 90 alunos, de 11 a 17 anos, e concluímos com 82, sem contar o enorme número de solicitações para entrar no projeto após o mesmo já ter iniciado.
Qual é a importância dos bombeiros mirins para a sociedade?
Sgt. BM. Rossendy – Acredito que estamos agregando valores cívicos, morais e éticos aos alunos, inserindo neles o espírito de corpo e amor à pátria, sem contar as disciplinas inerentes ao conhecimento técnico de bombeiro militar. O simples fato de estar frequentando o curso já afasta nossos jovens do mundo do crime e das armadilhas das drogas mas, ao agregar esses valores e conhecimentos, os alunos se tornam mais altruístas para com a sociedade, melhores estudantes em seus colégios e filhos mais contribuintes nas tarefas domésticas e respeitosos para com seus familiares e a comunidade em geral. A disciplina passa a fazer parte natural de sua vida.
O que os alunos aprendem no curso de BMM?
Sgt. BM. Rossendy – Eles são treinados para ter preparo psicológico, técnico e físico. São inseridos neles conhecimentos básicos sobre primeiros socorros, ordem unida, prevenção e combate a incêndio e salvamentos em altura, aquático e terrestre, além de noções de sobrevivência na selva e de disciplina. Os alunos recebem, ainda, noções de natação e de prevenção de afogamentos e de vários tipos de acidentes, entre eles, os domésticos, os de trabalho e os de trânsito.
Como são ministrados estes ensinamentos?
Sgt. BM. Rossendy – Oferecemos aos alunos aulas teóricas e práticas, simulando situações reais. As crianças e adolescentes frequentam as aulas do curso três vezes por semana, sempre no horário inverso ao do ensino regular. Além do aprendizado, o projeto oferece aos alunos alimentação, uniforme e transporte para as atividades fora de sala de aula. Em 13 anos de existência do Bombeiro Mirim em Rondônia, cerca de mil alunos foram beneficiados por este projeto. É bom ressaltar que o Bombeiro Mirim Militar é um programa social e educativo que se baseia na estrutura física e nos recursos humanos do Corpo de Bombeiros.
Quanto às promoções, como ocorrem e quanto tempo leva para o aluno chegar ao posto máximo – o de coronel?
Sgt. BM. Rossendy – Essas promoções são, em sua maioria, adquiridas pela “meritocracia”. O coronel Adams concluiu cinco anos de Bombeiro Mirim e seu subcomandante, o tenente-coronel Rogério, possui três anos de corporação. As promoções seguem os critérios escolares, desempenho no curso e ser bom filho. Realizamos um acompanhamento desses valores, que são pontuados. No final são feitas as promoções, na devida proporção. Aqueles que têm grande destaque podem, de uma vez, receber mais de uma graduação.
Pode-se dizer que, em concursos públicos da área militar, aqueles que passaram pelo Bombeiro Mirim têm vantagens?
Sgt. BM. Rossendy – Com certeza, devido ao conhecimento já adquirido no projeto, saem na frente durante o curso de formação. Na fase inicial, das provas escritas, precisam concorrer com todos em pé de igualdade, competindo com as mesmas chances que todos têm nos concursos. Poderão ter mais facilidade em algumas questões, caso seja previsto no edital especifico matérias correlatas ao curso de bombeiros, a exemplo de primeiros socorros, pois nossos alunos têm não só o conhecimento teórico do assunto, mas também o prático.
O Grupamento Mirim de Vilhena enfrenta alguma dificuldade?
Sgt. BM. Rossendy – Eu estou há cinco anos no BMM, sendo que em 2016 comandei a guarnição mirim de Machadinho do Oeste. Já em 2017 vim para o município de Vilhena, onde iniciei todo o projeto sozinho, com o apoio do Corpo de Bombeiros, mas sem apoio da sociedade local, com exceção do Fórum, pois o Dr. Adriano Lima Toldo me oportunizou a compra dos fardamentos de todos os alunos – a farda e o uniforme de TFM (Treinamento Físico Militar). Também ganhei alguns lanches, mas o restante deles foi conseguido em troca de aulas que eu dava em empresas. Em 2018 também “me virei nos 30” para conseguir patrocínios, doações, e a cabo Fernanda chegou ao BMM para me auxiliar, o que foi muito importante. Já neste ano, primeiro tivemos a ajuda da prefeitura e, depois, fiz projetos do que o BMM precisava, passei ao Poder Judiciário, e o órgão nos forneceu os fardamentos. Fizemos, ainda, rifas onde tivemos a colaboração dos pais, que se empenharam para ajudar os filhos a vender, e da sociedade, que comprou os bilhetes. Estas arrecadações nos ajudaram nos lanches e manutenção do quartelzinho BMM, incluindo tonner, instalações, ar-condicionado e material para aulas, etc. Essas coisas, apesar de pequenas, custam uma média de R$ 3,5 mil por mês.
O trabalho do Projeto Bombeiro Mirim tem o reconhecimento da sociedade?
Sgt. BM. Rossendy – Vemos que a sociedade no geral vê com muito bons olhos os jovens que estão ou já passaram pelo BMM. Quanto aos pais, estes são sempre participativos em nosso projeto. Vemos filhos orgulhosos de serem bombeiros mirins e pais igualmente orgulhosos por seus filhos serem bombeiros mirins. Este ano recebemos a informação do deputado Dr. Neidson (PMN) de que ele pretende oficializar a data de 17 de março como Dia do Bombeiro Mirim, a ser comemorado todos os anos. É uma grata satisfação receber uma notícia como esta, assim como fazer parte deste projeto e de somar com os alunos, agregar conhecimentos aos mesmos e até orientá-los para a vida, apoiando as famílias. Para 2020 espero que possamos encontrar mais parceiros para o projeto e que também possamos continuar com a disposição necessária para levar este trabalho adiante para a Honra e a Glória de Nosso Senhor Jesus.
Fotos: Revista Século/Major Karolina/Jonas S. Souza/Yasmin Caroline
Publicado Versão Impressa em Dezembro/2019